quinta-feira, 31 de julho de 2008


Aladim e a Lampada

"Aladim era filho de um pobre alfaiate que vivia numa cidade da China. Quando seu pai morreu, ele era muito jovem, e sua mãe teve que fiar algodão, dia e noite, para sustentá-lo. Um dia, quando tinha mais ou menos quinze anos, estava brincando na rua, com alguns companheiros. Um estranho que passava parou para olhá-lo. Era um mágico africano que necessitava da ajuda de um jovem. Percebeu logo que Aladim era exatamente quem ele procurava.

Primeiro, o mágico indagou das pessoas que estavam ali, quem era o menino. Depois, dirigiu-se a ele e disse:

- Meu rapaz, você não é filho de Mustafá, o alfaiate?

- Sim, senhor, mas meu pai morreu há muito tempo, respondeu o rapaz.

Ao ouvir estas palavras, o mágico abraçou Aladim, com os olhos cheios de lágrimas, e disse:

- Você é meu sobrinho, pois seu pai era meu irmão. Eu o conheci à primeira vista, porque você é muito parecido com ele.

O homem deu duas moedas de ouro a Aladim, dizendo:

- Vá para casa e diga à sua mãe que irei jantar com vocês.

Encantado com o dinheiro, Aladim correu para casa.

- Mamãe, eu tenho algum tio? perguntou ele.

- Não, meu filho. Seu pai não tinha irmãos e eu também não os tenho, respondeu a senhora.

- Acabo de encontrar um senhor que me disse ser irmão de papai. Deu-me este dinheiro e mandou dizer-lhe que jantaria aqui hoje.

A senhora ficou muito admirada, mas saiu para fazer compras e passou o dia preparando o jantar. Exatamente quando tudo ficou pronto, o mágico bateu à porta. Entrou trazendo embrulhos de frutas e doces. Cumprimentou a mãe de Aladim e, com lágrimas nos olhos, pediu-lhe que indicasse o lugar em que o irmão costumava sentar-se. Durante o jantar, pôs-se a descrever suas viagens.

- Minha boa irmã, começou ele. Não me admiro de que você nunca me tivesse visto. Estive quarenta anos fora deste país. Viajei por muitos lugares. Estou realmente triste por saber da morte de meu irmão, mas é um conforto saber que ele deixou um filho tão encantador!! Virando-se para Aladim, perguntou-lhe:

- Que faz você? Trabalha no comércio?

Aladim abaixou a cabeça, sem ter o que dizer. Sua mãe, então, explicou:

- Infelizmente ele nada faz. Passa os dias desperdiçando o tempo a brincar na rua.

- Isto não vai bem , meu sobrinho, disse o mágico. É preciso pensar num meio de ganhar a vida. Eu gostaria de ajudá-lo. Se você quiser, abrirei uma loja para você.

Aladim ficou muito contente com a idéia. Disse ao mágico que não havia nada que o encantasse mais.

- Bem, resolveu o homem. Amanhã sairemos e comprar-lhe-ei roupas elegantes. Depois, então, pensaremos na loja.

No dia seguinte, ele voltou, como havia prometido, e levou Aladim a uma casa que vendia roupas lindas. O menino escolheu as que mais lhe agradaram. Depois deram um passeio pela cidade. À noite, foram a uma festa. Quando a mãe de Aladim o viu voltar tão elegante e o ouviu contar tudo que haviam feito, ficou muito contente.

- Bondoso irmão, disse ao mágico, não sei como agradecer-lhe tanta bondade.

- Aladim é um bom rapaz, disse ele, e bem merece que se faça tudo por ele. Algum dia nos orgulharemos dele. Amanhã virei buscá-lo, para dar um passeio no campo. Depois de amanhã, então, abriremos a loja.

No dia seguinte, Aladim levantou-se muito cedo e foi ao encontro do tio. Andaram muito até que chegaram a uma fonte de água clara. O mágico abriu um embrulho de frutas e bolos. Quando acabaram de comer, continuaram a andar até que chegaram a um vale estreito, cercado de montanhas. Era este o lugar que o homem esperava encontrar. Ali havia levado Aladim por um motivo secreto.

- Não iremos adiante, comunicou ao rapaz. Mostrarei a você algumas coisas que ninguém ainda viu. Enquanto risco um fósforo, cate todos os gravetos que encontrar para acender o fogo.

Aladim num instante arranjou um pilha de gravetos, aos quais o mágico atiçou fogo. Quando as chamas cresceram, atirou-lhes um pouco de incenso e pronunciou umas palavras mágicas que Aladim não entendeu. Imediatamente a terra se abriu a seus pés e apareceu uma grande pedra, em cuja parte superior havia uma argola de ferro. Aladim estava tão assustado que teria fugido se o mágico não o detivesse.

- Se você me obedecer, não se arrependerá. Debaixo desta pedra está escondido um tesouro que o fará mais rico do que todos os reis do mundo. Você deverá, entretanto, fazer exatamente o que eu digo, para conseguí-lo.

O medo de Aladim desapareceu e ele declarou ao tio:

- Que tenho a fazer? Estou pronto a obedecer.

- Segure a argola e levante a pedra, disse o homem.

Aladim fez o que o mágico havia dito. Suspendeu a pedra e deixou-a de lado. Apareceu uma escada que conduzia a uma porta.

- Desça estes degraus e abra aquela porta, ordenou o mágico. Você entrará num palácio onde há três enormes salões. Em cada um deles verá quatro vasos cheios de ouro e prata. Não mexa em nenhum deles. Passe através dos três salões sem parar. Tenha cuidado para não se encostar nas paredes. Se o fizer, morrerá instantâneamente. No fim do terceiro salão, há uma porta que dá para um pomar, onde as árvores estão carregadas de lindas frutas. Atravessando o pomar, você chegará a um muro no qual encontrará um nicho. Nesse nicho, há uma lâmpada acesa. Pegue a lâmpada, jogue fora o pavio e o azeite, e traga-a o mais depressa que puder. Dizendo estas palavras, o mágico tirou do dedo um anel que ofereceu a Aladim, explicando:

- Se você me obedecer, isto o protegerá contra todos os males. Vá, meu filho. Faça tudo o que eu disse e ambos seremos felizes para o resto da vida.

Aladim desceu os degraus e abriu a porta. Encontrou três salões. Atravessou-os cuidadosamente e chegou ao pomar. Foi até o muro e apanhou a lâmpada no nicho. Jogou fora o pavio e o azeite. Finalmente, prendeu a lampada no cinturão. Já estava decidido a voltar, mas, olhando para as árvores, ficou encantado com as frutas. Eram de cores diferentes: brancas, vermelhas, verdes, azuis, roxas, todas cintilantes. Na verdade, não eram frutas, mas pedras preciosas: pérolas, diamantes, rubis, esmeraldas, safiras e ametistas. Aladim, não sabendo seu valor, pensou que eram simples pedaços de vidro. Ficou, entretanto, encantado com as cores e apanhou algumas de cada cor. Encheu os bolsos e também a bolsa de couro que trazia presa ao cinturão. Assim carregado de tesouros, correu pelos salões e logo chegou à boca da caverna. Viu o tio que o esperava no alto da escada e pediu-lhe:

- Dê-me a mão, meu tio, e ajude-me a sair daqui.

- Primeiro, entregue-me a lâmpada, exigiu o mágico.

- Na verdade, não posso fazê-lo agora, pois trago outras coisas que me dificultam a subida, mas assim que estiver aí em cima, entregá-la-ei, explicou Aladim.

O mágico, que estava aflito para possuir a lâmpada, irritou-se e atirou um pouco de incenso ao fogo, pronunciando, depois, algumas palavras mágicas. Imediatamente a pedra voltou ao seu lugar, tapando a saída da estranha caverna. Quando Aladim se viu na escuridão, chamou o mágico e implorou-lhe que o tirasse dali. Prometeu-lhe mil vezes que lhe daria a lâmpada. Seus rogos, entretanto, foram em vão. Desesperado, tentou atingir novamente a porta que conduzia aos salões, para ver se conseguia chegar ao pomar. A porta, porém, estava fechada. Durante dois dias, Aladim permaneceu na escuridão, sem comer, nem beber. Por fim, juntou as mãos para rezar e, ao fazê-lo, esfregou o anel que o mágico tinha posto em seu dedo. No mesmo instante, um gênio, enorme e assustador, surgiu da terra, dizendo:

- Que deseja? Sou o escravo do anel e cumprirei suas ordens.

Aladim replicou:

- Tire-me daqui.

Logo a terra se abriu e ele se encontrou lá fora. Muito artordoado foi andando para casa e, ao chegar, caiu desfalecido junto à porta. Quando voltou a si, contou à mãe o que lhe havia acontecido. Mostrou-lhe a lâmpada e as frutas que tinha trazido. Pediu-lhe, depois, alguma coisa para comer, ao que ela respondeu:

- Meu filho, nada tenho em casa, mas fiei algum algodão e irei vendê-lo.

- Em vez do algodão, mamãe, venda a lâmpada, propôs o menino.

Ela apanhou a lâmpada e começou a esfregá-la, porque estava muito suja. Nesse momento, surgiu um gênio que gritou bem alto:

- Sou o gênio da lâmpada e obedecerei à pessoa que a estiver segurando.

A senhora estava assustada demais para poder falar, mas o menino agarrou-a ousadamente e disse:

- Arranje-me alguma coisa para comer.

O gênio desapareceu e voltou equilibrando na cabeça uma bandeja de prata na qual havia doze pratos, também de prata, cheios das melhores iguarias. Havia ainda dois pratos e dois copos vazios. Colocou a bandeja na mesa e dasapareceu outra vez. Aladim e sua mãe sentaram-se e comeram com grande prazer. Nunca haviam provado comida tão gostosa. Depois de comerem tudo, venderam os pratos, conseguindo, assim, dinheiro que deu para viverem por algum tempo com bastante conforto.

Um dia, quando passeava pela cidade, Aladim ouviu uma ordem do sultão mandando que fechassem as lojas e saíssem todos das ruas, pois sua filha, a princesa, ia ao banho de mar e não podia ser vista por ninguém. O rapaz escondeu-se atrás de uma porta, de onde podia ver a princesa quando passasse. Não decorreu muito tempo e ela veio, acompanhada de uma porção de aias. Quando chegou perto da porta onde Aladim estava escondido, tirou o véu e ele viu seu rosto. A moça era tão bonita que ele desejou casar-se com ela. Chegando a casa contou à mãe seu amor pela princesa. A senhora riu-se e respondeu:

- Meu filho, você deve estar louco para pensar numa coisa destas!

- Não estou louco, mamãe, e pretendo pedir a mão da princesa ao sultão. Você deve procurá-lo para fazer o pedido, disse ele.

- Eu??? Dirigir-me ao sultão??? Você sabe muito bem que ninguém pode falar-lhe sem levar um rico presente, informou a senhora.

- Bem, vou contar-lhe um segredo. Aquelas frutas que trouxe da caverna não são simples pedaços de vidro. São jóias de grande valor. Tenho olhado pedras preciosas nas joalherias e nenhuma é tão grande, nem tem o brilho das minhas. A oferta delas, estou certo, comprará o favor do sultão.

Aladim trouxe as pedras da cômoda onde as tinha escondido e sua mãe colocou-as num prato de porcelana. A beleza de suas cores assombrou a senhora, que ficou certa de que o presente não poderia deixar de agradar ao sultão. Ela cobriu o prato e as jóias com um bonito pano de linho e saiu para o palácio. A multidão daqueles que tinham negócios na corte era grande. As portas estavam abertas e ela foi entrando. Colocou-se em frente ao sultão. Ele, entretanto, não tomou conhecimento de sua presença. Durante uma semana, ela foi lá diariamente, ocupando sempre o mesmo lugar. Afinal, ele viu-a e perguntou o que desejava. Tremendo, a boa mulher falou-lhe sobre a pretensão do filho. O sultão ouviu-a amavelmente e perguntou-lhe o que trazia na mão. Ela tirou o guardanapo de cima do prato e mostrou-lhe as jóias cintilantes. Que surpresa teve ele ao ver tais maravilhas! Durante muito tempo, contemplou-as sem dizer nada. Depois exclamou:

- Que riqueza! Que encanto!

Ele já havia determinado que a filha se casaria com um de seus oficiais; no entanto, disse à mãe de Aladim:

- Diga a seu filho que ele desposará a princesa se me enviar quarenta tinas cheias de jóias como estas. Elas deverão ser-me entregues por quarenta escravos negros, cada um dos quais será precedido de um escravo branco, todos ricamente vestidos.

A mãe de Aladim curvou-se até o chão e voltou para casa pensando que tudo estivesse perdido. Deu o recado ao filho esperando que, com isso, ele desistisse. Aladim sorriu, e quando a mãe se afastou, apanhou a lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu no mesmo instante e ele pediu-lhe que arranjasse tudo que o sultão havia pedido. O gênio desapareceu e voltou trazendo quarenta escravos negros, cada um carregando na cabeça uma tina cheia de pérolas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e ametistas. Os quarenta escravos negros e outros tantos brancos encheram a casa e o jardim. Aladim ordenou-lhes que se dirigissem ao palácio, dois a dois, e pediu à sua mãe que entregasse o presente ao sultão. Os escravos estavam tão ricamente vestidos que todos, nas ruas, paravam para vê-los. Entraram no palácio e ajoelharam-se em frente ao sultão, formando um semi-círculo. Os escravos negros colocaram as tinas no tapete.

O espanto do sultão, à vista daquelas riquezas, foi indescritível. Depois de muito contemplá-las, levantou-se e disse à mãe de Aladim:

- Diga a seu filho que o espero de braços abertos.

A senhora, feliz com a notícia, não perdeu tempo. Saiu correndo e deu o recado ao filho. Aladim, entretanto, não teve pressa. Primeiro chamou o gênio e pediu-lhe:

- Desejo um banho perfumado, uma roupa luxuosa, um cavalo tão bonito quanto o do sultão, vinte escravos e, além disso, vinte mil moedas de ouro distribuídas em vinte bolsas. Tudo isso apareceu imediatamente à sua frente. Aladim, elegantemente vestido e montado num lindo cavalo, passou pelas ruas, causando admiração a todos. Os escravos marchavam a seu lado, cada um carregando uma bolsa cheia de moedas de ouro, para distribuir pelo povo. Quando o sultão viu aquele belo rapaz, saiu do trono para recebê-lo. À noite ofereceu-lhe uma grande festa. Ele desejava que Aladim se casasse logo com a filha, mas este lhe disse:

- Primeiro, construirei um palácio para ela.

Assim que regressou à casa, chamou o gênio e disse:

- Dê-me um palácio do mais fino mármore, incrustado de pedras preciosas. Nele quero encontrar estábulos, cocheiras, lacaios, escravos. A mais fina decoração, com os móveis mais luxuosos do mundo.

O casamento de Aladim com a princesa realizou-se no meio de grande regozijo. O rapaz já havia conquistado o coração do povo, por sua generosidade. Durante muito tempo eles foram imensamente felizes. Nesta ocasião, o mágico que estava na África descobriu que Aladim era muito rico e querido de todos. Cheio de raiva, embarcou para a China. Lá chegando, ouviu algúem falar do palácio maravilhoso que tinha sido levantado pelo gênio da lâmpada. Resolveu, então, obter a lâmpada, custasse o que custasse. Os mercadores contaram-lhe que Aladim tinha ido caçar e que estaria ausente por alguns dias. Ele comprou uma dúzia de lâmpadas de cobre, iguais à lâmpada maravilhosa, e foi ao palácio gritando:

- Trocam-se lâmpadas novas por velhas!

Quando chegou à janela da princesa, os escravos chamaram-no, dizendo:

- Venha cá. Temos uma lâmpada feia e velha que queremos trocar.

Era a lâmpada maravilhosa, que Aladim havia deixado em cima de um móvel. A princesa não sabia seu valor; por isso, pediu a um escravo que a trocasse por uma nova. O mágico, muito contente, deu-lhe a melhor lâmpada que tinha, e saiu correndo para a floresta. Quando anoiteceu, chamou o gênio da lâmpada e ordenou que o palácio, a princesa e ele próprio fossem carregados para a África.

O pesar do sultão foi terrível quando descobriu que a filha e o palácio tinham desaparecido. Enviou soldados à procura de Aladim, que foi trazido à sua presença.

- Pouparei sua vida por quarenta dias e quarenta noites, lhe informou o sultão. Se durante este tempo minha filha não aparecer, mandarei cortar-lhe a cabeça.

Aladim vagou por toda a cidade, perguntando às pessoas que encontrava o que havia acontecido ao seu palácio. Ninguém sabia dar-lhe informação . Depois de muito andar, parou num riacho para matar a sede. Abaixou-se e juntou as mãos para apanhar um pouco de água. Ao fazê-lo, esfregou o anel mágico que trazia no dedo. O gênio do anel apareceu e perguntou-lhe o que queria.

- Ó gênio poderoso, devolve-me minha esposa e meu palácio! Implorou ele.

- Isto não está em meu poder, disse o gênio. Peça-o ao gênio da lâmpada. Sou apenas o gênio do anel.

- Então, pediu Aladim, leva-me até onde estiver o palácio.

Imediatamente, o rapaz sentiu-se carregado pelos ares. Finalmente chegou a um país estranho, onde logo avistou o palácio. A princesa estava chorando em seu quarto. Quando viu Aladim, ficou muito contente. Correu ao seu encontro e contou-lhe tudo o que havia acontecido. Aladim, ao ouvir falar na troca das lâmpadas, percebeu logo que o mágico era o causador de toda aquela aflição.

- Diga-me uma coisa, perguntou à esposa, onde está a lâmpada velha agora?

- O velho carrega-a no cinturão e não se separa dela noite e dia.

Depois de muito conversarem, fizeram um plano para conseguir a lâmpada de volta.

Aladim foi à cidade e comprou um pó que fazia a pessoa dormir instantaneamente. A princesa convidou o mágico para jantar em sua companhia. Enquanto comiam os primeiros pratos, ela pediu a um criado que lhe trouxesse dois copos de vinho, que ela havia preparado. O mágico, encantado com tanta gentileza, bebeu o vinho no qual ela havia derramado certa quantidade do pó. Suas idéias foram ficando meio confusas e ele pegou no sono.

Aladim, que estava escondido atrás de uma cortina, veio depressa e apanhou a lâmpada do cinturão do velho. Depois mandou que os empregados o carregassem para fora do palácio e o deixassem bem longe dali. A seguir, esfregou a lâmpada e, quando o gênio apareceu, pediu-lhe que levasse o palácio de volta para a China. Algumas horas mais tarde, o sultão olhando pela janela, viu o palácio de Aladim brilhando ao sol. Mandou, então, dar uma festa que durou uma semana.

O mágico, quando acordou no dia seguinte e se viu no meio da rua sem a lâmpada, ficou desesperado. Levantou-se e foi andando, tão distraído que não viu uma carruagem que se aproximava. O resultado foi que morreu debaixo das patas dos cavalos. Aladim e a esposa viveram felizes pelo resto da vida. Quando o sultão morreu, Aladim subiu ao trono e reinou por muitos anos, sendo sempre querido do povo."

quarta-feira, 30 de julho de 2008


A Bela e a Fera

Há muitos anos, em uma terra distante, viviam um mercador e suas
três filhas . A mais jovem era a mais linda e carinhosa, por isso
era chamada de "BELA".
Um dia, o pai teve de viajar para longe a negócios. Reuniu as
suas filhas e disse:

— Não ficarei fora por muito tempo. Quando voltar trarei
presentes. O que vocês querem? - As irmãs de Bela pediram
presentes caros, enquanto ela permanecia quieta.

O pai se voltou para ela, dizendo :

— E você, Bela, o que quer ganhar?

— Quero uma rosa, querido pai, porque neste país elas não
crescem, respondeu Bela, abraçando-o forte.

O homem partiu, conclui os seus negócios, pôs-se na estrada para
a volta. Tanta era a vontade de abraçar as filhas, que viajou por
muito tempo sem descansar. Estava muito cansado e faminto, quando,
a pouca distância de casa, foi surpreendido, em uma mata, por
furiosa tempestade, que lhe fez perder o caminho.
Desesperado, começou a vagar em busca de uma pousada, quando, de
repente, descobriu ao longe uma luz fraca. Com as forças que lhe
restavam dirigiu-se para aquela última esperança.
Chegou a um magnífico palácio, o qual tinha o portão aberto e
acolhedor. Bateu várias vezes, mas sem resposta. Então, decidiu
entrar para esquentar-se e esperar os donos da casa. Ointerior,
realmente, era suntuoso, ricamente iluminado e mobiliado de
maneira esquisita.
O velho mercador ficou defronte da lareira para enxugar-se e
percebeu que havia uma mesa para uma pessoa, com comida quente e
vinho delicioso.
Extenuado, sentou-se e começou a devorar tudo. Atraído depois
pela luz que saía de um quarto vizinho, foi para lá, encontrou uma
grande sala com uma cama acolhedora, onde o homem se esticou,
adormecendo logo. De manhã, acordando, encontrou vestimentas
limpas e uma refeição muito farta. Repousado e satisfeito, o pai
de Bela saiu do palácio, perguntando-se espantado por que não
havia encontrado nenhuma pessoa. Perto do portão viu uma roseira
com lindíssimas rosas e se lembrou da promessa feita a Bela. Parou
e colheu a mais perfumada flor. Ouviu, então, atrás de si um
rugido pavoroso e, voltando-se, viu um ser monstruoso que disse:

— É assim que pagas a minha hospitalidade, roubando as
minhas rosas? Para castigar-te, sou obrigado a matar-te!

O mercador jogou-se de joelhos, suplicando-lhe para ao menos
deixá-lo ir abraçar pela última vez as filhas. A fera lhe propôs,
então, uma troca: dentro de uma semana devia voltar ou ele ou uma
de suas filhas em seu lugar.
Apavorado e infeliz, o homem retornou para casa, jogando-se aos
pés das filhas e perguntando-lhes o que devia fazer. Bela
aproximou-se dele e lhe disse:

— Foi por minha causa que incorreste na ira do monstro. É
justo que eu vá...

De nada valeram os protestos do pai, Bela estava decidida.
Passados os sete dias, partiu para o misterioso destino.

Chegada à morada do monstro, encontrou tudo como lhe havia
descrito o pai e também não conseguiu encontrar alma viva.
Pôs-se então a visitar o palácio e, qual não foi a sua surpresa,
quando, chegando a uma extraordinária porta, leu ali a inscrição
com caracteres dourados: "Apartamento de Bela".
Entrou e se encontrou em uma grande ala do palácio, luminosa e
esplêndida. Das janelas tinha uma encantadora vista do jardim.
Na hora do almoço, sentiu bater e se aproximou temerosa da porta.
Abriu-a com cautela e se encontrou ante de Fera. Amedrontada,
retornou e fugiu através da salas. Alcançada a última, percebeu
que fora seguida pelo monstro. Sentiu-se perdida e já ia implorar
piedade ao terrível ser, quando este, com um grunhido gentil e
suplicante lhe disse:

— Sei que tenho um aspecto horrível e me desculpo ; mas não
sou mau e espero que a minha companhia, um dia, possa ser-te
agradável. Para o momento, queria pedir-te, se podes, honrar-me
com tua presença no jantar.

Ainda apavorada, mas um pouco menos temerosa, bela consentiu e ao
fim da tarde compreendeu que a fera não era assim malvada.
Passaram juntos muitas semanas e Bela cada dia se sentia
afeiçoada àquele estranho ser, que sabia revelar-se muito gentil,
culto e educado.
Uma tarde , a Fera levou Bela à parte e, timidamente, lhe disse:

— Desde quando estás aqui a minha vida mudou. Descobri que
me apaixonei por ti. Bela, queres casar-te comigo?

A moça, pega de surpresa, não soube o que responder e, para
ganhar tempo, disse:

— Para tomar uma decisão tão importante, quero pedir
conselhos a meu pai que não vejo há muito tempo!

A Fera pensou um pouco, mas tanto era o amor que tinha por ela
que, ao final, a deixou ir, fazendo-se prometer que após sete dias
voltaria.
Quando o pai viu Bela voltar, não acreditou nos próprios olhos,
pois a imaginava já devorada pelo monstro. Pulou-lhe ao pescoço e
a cobriu de beijos. Depois começaram a contar-se tudo que
acontecera e os dias passaram tão velozes que Bela não percebeu
que já haviam transcorridos bem mais de sete.
Uma noite, em sonhos, pensou ver a Fera morta perto da roseira.
Lembrou-se da promessa e correu desesperadamente ao palácio.
Perto da roseira encontrou a Fera que morria.
Então, Bela a abraçou forte, dizendo:

— Oh! Eu te suplico: não morras! Acreditava ter por ti só
uma grande estima, mas como sofro, percebo que te amo.

Com aquelas palavras a Fera abriu os olhos e soltou um sorriso
radioso e diante de grande espanto de Bela começou a
transformar-se em um esplêndido jovem, o qual a olhou comovido e
disse:

— Um malvado encantamento me havia preso naquele corpo
monstruoso. Somente fazendo uma moça apaixonar-se podia vencê-lo e
tu és a escolhida. Queres casar-te comigo agora?

Bela não fez repetir o pedido e a partir de então viveram felizes
e apaixonados.

terça-feira, 29 de julho de 2008

A roupa nova do Rei



"Era uma vez um rei, tão exageradamente amigo de roupas novas, que nelas gastava todo o seu dinheiro. Ele não se preocupava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pela floresta, a não ser para exibir roupas novas. Para cada hora do dia, tinha uma roupa diferente. Em vez de o povo dizer, como de costume, com relação a outro rei: "Ele está em seu gabinete de trabalho", dizia "Ele está no seu quarto de vestir".

A vida era muito divertida na cidade onde ele vivia. Um dia, chegaram hóspedes estrangeiros ao palácio. Entre eles havia dois trapaceiros. Apresentaram-se como tecelões e gabavam-se de fabricar os mais lindos tecidos do mundo. Não só os padrões e as cores eram fora do comum, como, também as fazendas tinham a especialidade de parecer invisíveis às pessoas destituídas de inteligência, ou àquelas que não estavam aptas para os cargos que ocupavam.

"Essas fazendas devem ser esplêndidas, pensou o rei. Usando-as poderei descobrir quais os homens, no meu reino, que não estão em condições de ocupar seus postos, e poderei substituí-los pelos mais capazes... Ordenarei, então, que fabriquem certa quantidade deste tecido para mim."

Pagou aos dois tecelões uma grande quantia, adiantadamente, para que logo começassem a trabalhar. Eles trouxeram dois teares nos quais fingiram tecer, mas nada havia em suas lançadeiras. Exigiram que lhes fosse dada uma porção da mais cara linha de seda e ouro, que puseram imediatamente em suas bolsas, enquanto fingiam trabalhar nos teares vazios.



- Eu gostaria de saber como vai indo o trabalho dos tecelões, pensou o rei. Entretanto, sentiu-se um pouco embaraçado ao pensar que quem fosse estúpido, ou não tivesse capacidade para ocupar seu posto, não seria capaz de ver o tecido. Ele não tinha propriamente dúvidas a seu respeito, mas achou melhor mandar alguém primeiro, para ver o andamento do trabalho.

Todos na cidade conheciam o maravilhoso poder do tecido e cada qual estava mais ansioso para saber quão estúpido era o seu vizinho.
- Mandarei meu velho ministro observar o trabalho dos tecelões. Ele, melhor do que ninguém, poderá ver o tecido, pois é um homem inteligente e que desempenha suas funções com o máximo da perfeição, resolveu o rei.

Assim sendo, mandou o velho ministro ao quarto onde os dois embusteiros simulavam trabalhar nos teares vazios.
- "Deus nos acuda!!!" pensou o velho ministro, abrindo bem os olhos. "Não consigo ver nada!"
Não obstante, teve o cuidado de não declarar isso em voz alta. Os tecelões o convidaram para aproximar-se a fim de verificar se o tecido estava ficando bonito e apontavam para os teares. O pobre homem fixou a vista o mais que pode, mas não conseguiu ver coisa alguma.
- "Céus!, pensou ele. Será possível que eu seja um tolo? Se é assim, ninguém deverá sabê-lo e não direi a quem quer que seja que não vi o tecido."

- O senhor nada disse sobre a fazenda, queixou-se um dos tecelões.
- Oh, é muito bonita. É encantadora!! Respondeu o ministro, olhando através de seus óculos. O padrão é lindo e as cores estão muito bem combinadas. Direi ao rei que me agradou muito.
- Estamos encantados com a sua opinião, responderam os dois ao mesmo tempo e descreveram as cores e o padrão especial da fazenda. O velho ministro prestou muita atenção a tudo o que diziam, para poder reproduzi-lo diante do rei.

Os embusteiros pediram mais dinheiro, mais seda e ouro para prosseguir o trabalho. Puseram tudo em suas bolsas. Nem um fiapo foi posto nos teares, e continuaram fingindo que teciam. Algum tempo depois, o rei enviou outro fiel oficial para olhar o andamento do trabalho e saber se ficaria pronto em breve. A mesma coisa lhe aconteceu: olhou, tornou a olhar, mas só via os teares vazios.
- Não é lindo o tecido? Indagaram os tecelões, e deram-lhe as mais variadas explicações sobre o padrão e as cores.
"Eu penso que não sou um tolo, refletiu o homem. Se assim fosse, eu não estaria à altura do cargo que ocupo. Que coisa estranha!!"... Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho do tecido e, depois, disse ao rei: "É uma verdadeira maravilha!!"

Todos na cidade não falavam noutra coisa senão nessa esplendida fazenda, de modo que o rei, muito curioso, resolveu vê-la, enquanto ainda estava nos teares. Acompanhado por um grupo de cortesões, entre os quais se achavam os dois que já tinham ido ver o imaginário tecido, foi ele visitar os dois astuciosos impostores. Eles estavam trabalhando mais do que nunca, nos teares vazios.

- É magnífico! Disseram os dois altos funcionários do rei. Veja Majestade, que delicadeza de desenho! Que combinação de cores! Apontavam para os teares vazios com receio de que os outros não estivessem vendo o tecido.
O rei, que nada via, horrorizado pensou: "Serei eu um tolo e não estarei em condições de ser rei? Nada pior do que isso poderia acontecer-me!" Então, bem alto, declarou:
- Que beleza! Realmente merece minha aprovação!! Por nada neste mundo ele confessaria que não tinha visto coisa nenhuma. Todos aqueles que o acompanhavam também não conseguiram ver a fazenda, mas exclamaram a uma só voz:
- Deslumbrante!! Magnífico!!

Aconselharam eles ao rei que usasse a nova roupa, feita daquele tecido, por ocasião de um desfile, que se ia realizar daí a alguns dias. O rei concedeu a cada um dos tecelões uma condecoração de cavaleiro, para seu usada na lapela, com o título "cavaleiro tecelão". Na noite que precedeu o desfile, os embusteiros fiizeram serão. Queimaram dezesseis velas para que todos vissem o quanto estavam trabalhando, para aprontar a roupa. Fingiram tirar o tecido dos teares, cortaram a roupa no ar, com um par de tesouras enormes e coseram-na com agulhas sem linha. Afinal, disseram:

- Agora, a roupa do rei está pronta.
Sua Majestade, acompanhado dos cortesões, veio vestir a nova roupa. Os tecelões fingiam segurar alguma coisa e diziam: "aqui está a calça, aqui está o casaco, e aqui o manto. Estão leves como uma teia de aranha. Pode parecer a alguém que não há nada cobrindo a pessoa, mas aí é que está a beleza da fazenda".

- Sim! Concordaram todos, embora nada estivessem vendo.
- Poderia Vossa Majestade tirar a roupa? propuseram os embusteiros. Assim poderiamos vestir-lhe a nova, aqui, em frente ao espelho. O rei fez-lhes a vontade e eles fingiram vestir-lhe peça por peça. Sua majestade virava-se para lá e para cá, olhando-se no espelho e vendo sempre a mesma imagem, de seu corpo nu.
- Como lhe assentou bem o novo traje! Que lindas cores! Que bonito desenho! Diziam todos com medo de perderem seus postos se admitissem que não viam nada. O mestre de cerimônias anunciou:
- A carruagem está esperando à porta, para conduzir Sua Majestade, durante o desfile.
- Estou quase pronto, respondeu ele.

Mais uma vez, virou-se em frente ao espelho, numa atitude de quem está mesmo apreciando alguma coisa.
Os camareiros que iam segurar a cauda, inclinaram-se, como se fossem levantá-la do chão e foram caminhando, com as mãos no ar, sem dar a perceber que não estavam vendo roupa alguma. O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile. O povo, nas calçadas e nas janelas, não querendo passar por tolo, exclamava:
- Que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido!
Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso!

Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência,achou aquilo tudo muito estranho e gritou:
- Coitado!!! Ele está completamente nu!! O rei está nu!!
O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar:
- Ele está nu! Ele está nu!
O rei, ao ouvir esses comentários, ficou furioso por estar representando um papel tão ridículo! O desfile, entretanto, devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os camareiros continuaram a segurar-lhe a cauda invisível. Depois que tudo terminou, ele voltou ao palácio, de onde envergonhado, nunca mais pretendia sair. Somente depois de muito tempo, com o carinho e afeto demonstrado por seus cortesões e por todo o povo, também envergonhados por se deixarem enganar pelos falsos tecelões, e que clamavam pela volta do rei, é que ele resolveu se mostrar em breve aparições... Mas nunca mais se deixou levar pela vaidade e perdeu para sempre a mania de trocar de roupas a todo momento.

Quanto aos dois supostos tecelões, desapareceram misteriosamente, levando o dinheiro e os fios de seda e ouro. Mas, depois de algum tempo, chegou a notícia na corte, de que eles haviam tentando fazer o mesmo golpe em outro reino e haviam sido desmascarados, e agora cumpriam uma longa pena na prisão.

segunda-feira, 28 de julho de 2008


A Sereiazinha

Longe, muito longe no mar, a água é azul como as mais belas pétalas da centáurea e clara como o mais puro cristal. Mas é tão funda que não se pode sondar. Seria preciso pôr torres mais torres em cima umas das outras para se alcançar a superfície da água; e lá embaixo residem os habitantes do mar.

Mas não pensem que não há nada ali, exceto a areia deserta. Pois no fundo do mar crescem as árvores e as plantas mais estranhas, de caules e folhas tão flexíveis, que o menor movimento da água as faz balançar-se como se tivessem vida. Peixes de todas as qualidades deslizam entre seus ramos, a exemplo das aves aqui em cima na terra. No lugar mais fundo de todos ergue-se o castelo do rei do mar com suas paredes de coral e altas janelas góticas do mais claro âmbar. Seu telhado é feito de cascas de ostras, que se abrem e fecham de acordo com o movimento da água. Tem uma belíssima aparência, pois todas as conchas encerram as mais lustrosas pérolas, das quais uma só bastaria para dar valor inestimável a um diadema de rainha.

Fazia muitos anos que o rei do mar estava viúvo, e era sua própria mãe quem cuidava da casa para ele. Era ela uma mulher inteligente, mas orgulhosa de sua classe, pôr isso trazia na cauda doze ostras, enquanto aos outros grandes só se permitiam seis. Além disso, era merecedora de grandes elogios, especialmente porque amava carinhosamente suas netas — as princesas do mar. Eram seis, estas princesinhas, todas lindas; mas a mais linda era a caçula. Tinha a pele tão clara e fina como uma pétala de rosa; seus olhos eram tão azuis como o mar mais profundo; mas, a exemplo de todas as sereias, não tinha pés, pois seu corpo terminava numa cauda de peixe.

Podiam as princesas brincar o dia inteiro no castelo, em cujas paredes cresciam flores viventes. As grandes janelas de âmbar se abriam e os peixes entravam pôr elas, assim como fazem as andorinhas quando abrimos as janelas de casa; mas os peixes nadavam diretamente para as princesas, comiam de suas mãos, e deixavam-se acariciar.


Fora do castelo havia um grande jardim com flores vermelho-vivo e azul-escuras; os frutos brilhavam como ouro, e as flores como labaredas de fogo, continuamente balançando seus caules e folhas. O fundo era coberto da areia mais fina, azul como luz de enxofre. Uma peculiar radiosidade azul emanava de todas as coisas em redor, de modo que qualquer pessoa podia pensar que estava nas alturas, como clossel do céu acima e à volta, nunca no fundo mais profundo do mar... Nas horas de calma podia-se ver o sol, que parecia uma flor purpúrea de onde jorrava toda a luz.

Cada uma das princesinhas possuía um pedaço do jardim, onde podia cavoucar e plantar como bem entendesse. Uma deu a seu canteiro a forma de uma baleia; outra achou melhor dar ao seu a forma de uma mulher marinha; mas a mais novinha fez o seu redondo como o sol, e ali plantou flores vermelhas que brilhavam como o próprio astro-rei. Esta princesinha era uma criança singular, muito calada e pensativa; e certa vez, quando suas irmãs exibiram as lindas coisas que tinham ganho dos navios naufragados, ela apenas quis além das flores parecidas com o sol, uma estatueta de mármore. Esta representava um bonito menino, talhado em pedra branca, e afundara-se no mar depois de um naufrágio. A princesinha plantou um salgueiro cor-de-rosa ao lado da estatueta; a árvore cresceu extraordinariamente e inclinou os galhos pôr cima da estatueta até a areia azulada, onde as sombras escureciam em violeta e dançavam como os próprios galhos. Parecia que as extremidades da árvore e as raízes estavam brincando de beijar-se entre si.

Não havia prazer maior para a princesinha do que ouvir o mundo dos homens acima do mar. A velha avó tinha de contar-lhe tudo o que sabia sobre navios e cidades, homens e animais. Era lindo saber que na terra havia flores que cheiravam (pois as do fundo do mar não tinham perfume), e que as árvores eram verdes, e que os peixes de lá podiam cantar alto e claro, enquanto saltitavam de galho em galho... O que a avó chamava de peixes eram passarinhos, e a princesinha não podia entender outra coisa, pois nunca em sua vida avistara um passarinho.

- Quando você fizer quinze anos — disse-lhe a avó terá licença de subir à superfície do mar, sentar-se nas rochas debaixo do luar e ver passar os grandes navios. Então sim, verá florestas e cidades!

No ano seguinte uma das irmãs completou quinze anos, mas havia a diferença de um ano de idade entre as princesinhas, de modo que a mais nova ainda teria de esperar cinco anos antes de poder subir à superfície do mar e ver o mundo tal como era. Mas umas prometeram as outras contar o que tinham visto e o que acharam mais lindo no primeiro dia da visita: pois era impossível à avó contar tudo tantas eram as coisas que elas desejavam saber.

Ninguém mais aflita pôr causa disso do que a princesinha mais nova justamente aquela que tinha de esperar mais tempo para subir à tona, e que era mais quieta e pensativa. Muitas noites ficava perto da janela aberta, olhando através da água azul os peixes que nadavam num lampejar de cauda e barbatanas. Também via a lua e as estrelas, que naturalmente tinham um brilho frouxo, mas que através da água pareciam muito maiores do que parecem para nós aqui na terra. Quando alguma coisa parecida com uma nuvem negra passava acima da sua cabeça, ela sabia que era uma baleia que passava, ou um navio cheio de gente. Gente que, naturalmente, nem sonhava que uma linda sereiazinha estava lá embaixo, e estendia suas brancas mãozinhas para a quilha do navio.

A princesa mais velha fez quinze anos e subiu afinal para a superfície do mar.

Quando voltou, tinha uma centena de coisas para contar mas a melhor de todas, disse ela, era ficar deitada num banco de areia sob o luar que prateava o mar tranqüilo, e contemplar a costa próxima, com sua cidade grande onde as luzes piscavam como um milhar de estrelas, ouvir a música, o clamor dos homens e o rumor das carruagens. ver os numerosos campanários das igrejas e ouvir os sinos bimbalhando. E só porque não podia aproximar-se de nenhuma dessas coisas, queria-as mais que a qualquer outra no mundo.

Com que atenção a escutava à irmã mais nova! E mais tarde, quando esta foi postar-se junto à janela aberta e olhar a água azul-escura, como pensou na cidade grande com todo o seu rumor e burburinho! Até julgou ouvir, nas profundezas onde estava, um rumor de sinos badalando.

No ano seguinte a segunda teve licença de subir à superfície e nadar para onde quisesse. Subiu à tona justamente na hora do pôr do sol, e este espetáculo, disse ela, era o mais bonito de todos. O céu inteirinho parecia feito de ouro, e quanto às nuvens, era impossível descrever sua beleza. Estas flutuavam acima da sua cabeça, coloridas de púrpura e violeta, porém muito mais rápido que as nuvens passou voando rumo ao sol, um bando de cisnes que se diria um véu branco em cima da água. A sereiazinha tentou nadar naquela direção, mas o sol mergulhou no horizonte, e a cor rosada se desvaneceu nas nuvens e no mar.

No ano seguinte foi a vez da terceira sereiazinha. Como era a mais ousada das cinco, subiu um largo rio que desaguava no mar. Viu esplêndidos montes cobertos de vinhedos; palácios e castelos surgindo brilhantes entre magníficas florestas; ouviu pássaros cantarem; e o sol fulgia tanto, que ela foi muitas vezes obrigada a mergulhar na água para refrescar o rosto ardente. Numa pequena angra viu um enxame de pequeninos seres. Estavam todos nus, chapinhando na água; quis brincar com eles, mas todos fugiram assustados, e um animalzinho preto correu atrás dela (era um cãozinho, mas ela não sabia o que era isso) e latiu com tanta força que ela também se assustou e tratou de sair para o mar. Mas nunca se esqueceu das magníficas florestas, dos montes verdejantes e das lindas crianças que nadavam, embora não possuíssem caudas de peixe ou barbatanas.

A quarta sereiazinha não era tão ousada: deixou-se ficar no meio do mar bravio, depois disse que era esse o espetáculo mais belo. Podia-se estender a vista muitas milhas em torno, e o céu na altura parecia uma redoma de cristal. Viu navios, porém muito distantes, e comparou-os a gaivotas. Os engraçados golfinhos viravam cambalhotas sobre as ondas e enormes baleias esguichavam água pelas narinas, como centenas de repuxos à sua volta.

Enfim chegou a vez da quinta irmãzinha. O seu aniversário caíra no inverno, pôr isso ela viu o que as outras não tinham visto na primeira vez. O mar estava verde, e grandes icebergs flutuavam na superfície; cada um parecia uma pérola, disse ela, e era no entanto muito mais alto do que os campanários edificados pelo homem. Os icebergs assumiam as formas mais fantásticas, e cintilavam como diamantes. Ela sentara-se no topo de um dos maiores, e deixara que o sol brincasse com seus longos cabelos. Todos os navios passavam rapidamente junto ao lugar onde ela se encontrava, e quando começou a escurecer, o céu se cobriu de nuvens, o trovão roncou e as negras ondas levantaram os blocos de gelo, oferecendo-os ao clarão vermelho dos coriscos. Içaram-se as velas em todos os navios, e houve medo e aflição. Ela porém continuou sentada no iceberg flutuante, e viu os relâmpagos azuis bifurcarem-se, precipitando-se no mar.

Cada uma das irmãs, após voltar da primeira visita à superfície do mar, vivia feliz e contente com a lembrança dos novos e belos espetáculos que presenciara. Mas agora, como meninas crescidas que eram e que tinham licença de lá ir quando bem quisessem, o assunto se lhes tornou indiferente. Preferiam voltar depois de um mês, dizendo que era muito melhor nas profundezas. pois ali se sentiam comodamente em casa.

Muitas noites, de braços dados, as cinco irmãs subiam juntas para a tona da água. Tinham lindas vozes, mais lindas do que qualquer voz mortal; e quando a tempestade ameaçava, e elas percebiam que o navio ia afundar, nadavam na dianteira e cantavam lindas cantigas, que diziam da beleza do fundo do mar, e exortavam os marujos a que não tivessem medo de ir ao fundo. Os marujos porém não as entendiam, e pensavam que era a tempestade que cantava. Tampouco viam os esplendores debaixo da água, pois se o navio afundava morriam afogados e só chegavam como cadáveres no palácio do rei do mar.

Quando as irmãs subiram, de braços dados, na hora do anoitecer, a sexta irmãzinha ficou olhando-as e teve até vontade de chorar; mas uma sereia não tem lágrimas, e pôr isso sofre mais do que ninguém.

- Oh! se eu tivesse quinze anos! - suspirou ela. - Sei que vou gostar imensamente do mundo lá de cima, e da gente que ali vive e reside!

Finalmente um dia completou quinze anos.

- Agora, sim; veja como está crescida! - disse a avó. — Venha cá; deixe-me enfeitá-la como fiz as suas irmãs.

Colocou uma grinalda de lírios brancos nos cabelos da menina, mas cada flor era a metade de uma pérola. Depois deixou que oito enormes ostras se agarrassem na cauda da princesa, em sinal da sua alta classe aristocrática.

- Estão me machucando! gemeu a sereiazinha.

- Paciência — respondeu a anciã. É preciso que o orgulho sofra.

Mas como a princesinha ficaria contente se pudesse sacudir de si todos aqueles emblemas aristocráticos e pôr de lado a pesada grinalda! Gostava muito mais das flores vermelhas de seu jardim; mas que podia fazer?

- Adeus! disse ela, e começou a subir, leve e clara como uma bolha de água, para a superfície do mar.

O sol acabara de pôr-se quando sua cabeça emergiu, mas as nuvens ainda brilhavam róseas e douradas, e no céu vermelho-pálido as primeiras estrelas fulgiam, radiosamente belas. O ar era ameno, e o mar estava tranqüilo. Um grande navio de três mastros flutuava na superfície; içara apenas uma vela. pois não havia brisa, e sob as vergas e as enxárcias aglomeravam-se os marinheiros. Tocavam e cantavam. e quando a noite desceu de todo, acenderam-se centenas de lanternas coloridas, como se as bandeiras de todas as nações ali estivessem ondulando no ar. A sereiazinha nadou diretamente para a janela da cabina, e cada vez que o mar a levantava, ela podia espiar pela vidraça, clara como cristal, e ver muitas pessoas vestidas com grande luxo. Mas a mais bela de todas era o jovem príncipe de grandes olhos negros. Não teria mais de dezesseis anos, e aquele era o dia de seu aniversário; pôr isso festejavam. Os marujos dançavam no tombadilho, e quando o jovem príncipe apareceu, mais de cem foguetes espoucaram no ar, brilhantes como o dia. A sereiazinha se assustou e mergulhou dentro da água. Logo porém tornou a pôr a cabeça de fora, e então lhe pareceu que todas as estrelas do céu estavam caindo em cima dela. Nunca vira fogos de artifício. E agora, grandes sóis estouravam à sua volta, magníficos peixes de fogo voavam no ar azul, e o mar era um espelho que tudo refletia. O próprio navio estava tão bem iluminado que se podia ver cada cabo separadamente, e as pessoas ali apareciam com a maior clareza. Oh! como o príncipe era belo! Apertava as mãos de toda gente e sorria, enquanto a música vibrava dentro da noite magnífica.

Foi ficando tarde, mas a sereiazinha não podia tirar os olhos do navio e do formoso príncipe. As lanternas coloridas se apagaram, os foguetes deixaram de espoucar no céu e não mais se dispararam os canhões; havia porém um murmúrio e um zumbido bem no fundo do mar; e a sereiazinha ficou se balançando na água, subindo e descendo para espiar no interior da cabina. Mas enquanto o navio se adiantava, içaram-se as velas, uma após outra. As ondas se alteavam, surgiram nuvens enormes, e na distância o raio estralejou. Oh! ameaçava um horrível temporal, os marujos recolheram as velas. O navio corria rápido sobre o mar encapelado; as águas subiam como enormes montanhas negras, ameaçando cair em cima dos mastros; mas como um cisne, o navio se afundava nos vales abertos entre as ondas altíssimas, depois tornava a deixar-se levantar pôr elas. Para a sereiazinha isto parecia uma simples brincadeira, mas para os marujos era coisa muito diferente. O navio estalava e rangia; as grossas pranchas se entortavam sob os pesados golpes; o navio foi invadido pelo mar, e, como um frágil caniço, o mastro de mezena partiu-se em dois. Finalmente adernado sob o impacto das ondas, o navio se deixou inundar pelas águas enfurecidas. Viu então a sereiazinha que os tripulantes estavam em perigo; teve, ela própria, de tomar cuidado, a fim de evitar as vigas e os fragmentos do navio que flutuavam ao redor. Houve um momento em que tudo ficou escuro como breu, ao ponto de não se poder enxergar qualquer objeto; mas quando clareou, a cena iluminou-se de tal modo, que ela podia distinguir todas as pessoas a bordo. Procurava, com afinco, ver o príncipe, e quando o navio se partiu, ela o viu afundar-se no mar. Ficou então muito contente, pois agora o príncipe iria a seu encontro. Nisto se lembrou de que as pessoas não podiam viver dentro da água, e que ele decerto estaria morto quando chegasse à casa do rei do mar seu pai. Não: ele não devia morrer! Nadou então entre as vigas e as pranchas que se espalhavam pela superfície, quase esquecida de que uma delas a poderia esmagar. Depois desceu para o fundo da água e tornou a subir à tona, e deste modo conseguiu enfim se aproximar do príncipe, que já não podia mais nadar no mar encapelado. Seus braços e suas pernas começavam a fraquejar, seus lindos olhos se fecharam e teria morrido, não fosse a sereiazinha Ter chegado a tempo. Ela segurou-lhe a cabeça acima da água, depois deixou que as ondas os carregassem para onde quisessem.

Ao raiar a manhã, a tempestade havia passado. Não se via nem sinal do navio. O sol subiu, vermelho e radioso, sobre as águas do mar, e era como se os seus raios devolvessem a cor da vida às faces do príncipe, cujos olhos entretanto continuavam fechados. A sereiazinha beijou-lhe a testa alta e clara, alisou-lhe os úmidos cabelos para trás, e ficou muito espantada ao verificar que ele parecia a estatueta de mármore do seu jardim submarino. Tornou a beijá-lo, esperançosa de que ele voltasse à vida.

Viu então à sua frente a terra firme com suas altas montanhas, em cujos píncaros a branca neve cintilava como se ali estivessem cisnes pousados. Lá embaixo na praia havia florestas viridentes e um edifício — ela não podia dizer se era igreja ou convento. No jardim do edifício cresciam laranjeiras e limoeiros, e altas palmeiras se agitavam em frente do portão. O mar formava ali uma pequena baia; era muito calmo, porém muito profundo. Ela nadou com o príncipe para um rochedo onde uma fina areia branca se amontoara, deitou o príncipe na areia e continuou amparando-lhe a cabeça sob o sol tépido.

Nisto, todos os sinos se puseram a tocar no grande edifício branco, e uma porção de meninas saiu para o jardim. A sereiazinha nadou para mais longe entre algumas pedras altas que sobressaíam no mar, pôs um pouco de espuma nos cabelos e no pescoço para que ninguém lhe visse o rosto. depois sentou-se e ficou vigiando para ver o que acontecia ao pobre príncipe.

Dentro em pouco uma das meninas caminhou em sua direção De repente teve um sobressalto, e chamou gente, e a sereiazinha percebeu que o príncipe voltara à vida e sorria a todos em redor. Mas para ela não sorriu; não sabia que ela o havia salvo. A sereiazinha ficou muito triste; e quando o levaram para o grande edifício, ela afundou desconsolada dentro da água e voltou para o palácio de seu pai.

Ela sempre fôra muito quieta e tristonha, mas de então em diante ficou ainda mais tristonha e mais calada. Assim que chegou, as irmãs lhe perguntaram o que tinha visto acima da superfície do mar; ela porém não disse nada.

Muitas noites e manhãs voltou para o lugar onde deixara o príncipe. Viu os frutos do jardim amadurecerem e serem colhidos; viu a neve derreter-se nos altos píncaros das montanhas; mas não viu o príncipe, de modo que sempre voltava para casa ainda mais triste do que antes. Seu único consolo era ficar sentada no jardinzinho, e passar o braço em torno da estatueta de mármore parecida com o príncipe; contudo, já não cuidava das flores. Estas cresciam desordenadamente nos caminhos, e arrastavam suas longas folhas e caules pelos troncos acima, de modo que a escuridão ali era quase completa.

Finalmente não pôde mais suportar, e disse-o a uma das irmãs, enquanto as restantes também ouviram; mas ninguém ficou sabendo coisa alguma sobre o assunto, exceto mais algumas sereias, que contaram o segredo às suas amigas mais íntimas. Uma destas sabia quem era o príncipe; ela também assistira à festa a bordo do navio, e contou donde ele vinha e seu reino qual era.

- Venha aqui, irmãzinha! — disseram as outras princesas; e, de braços dados, subiram todas numa longa fila para a superfície do mar, para bem perto do lugar onde se erguia o palácio do príncipe.

Esse palácio era feito de uma espécie muito brilhante de pedra amarela, e tinha grandes escadarias, uma das quais conduzia diretamente para o mar. No telhado elevavam-se esplêndidas cúpulas douradas, e entre os pilares que rodeavam toda a morada, havia estátuas de mármore que se diriam vivas. Pelas claras vidraças das altas janelas, podiam-se enxergar os vistosos salões, onde se dependuravam ricas cortinas e tapeçarias de seda, ao mesmo tempo que as paredes viam-se adornadas com pinturas tão lindas que era um prazer contemplá-las. No centro do salão principal uma fonte jorrava, esguichando água para o teto em abóbada de vidro, através do qual o sol brilhava sobre a fonte e as lindas plantas que ali cresciam.

Agora ela sabia onde o príncipe morava, e foram muitas as noites e os dias que passou na superfície do mar. Nadava para mais perto da terra com uma coragem que as outras não tinham; chegava até a alcançar o estreito canal sob o esplêndido balcão de mármore que lançava uma vasta sombra em cima da água. E ai ficava sentada, observando o príncipe que julgava estar sozinho sob o luar.

Muitas foram as noites em que o viu sair, entre sons melodiosos de canções, no rico barco enfeitado de bandeiras esvoaçantes. Ela espiava pôr entre os verdes caniços, e quando o vento agitava o seu véu cor de branca prata, o príncipe pensava que eram cisnes desdobrando as asas...

Muitas foram as noites em que os pescadores saíram ao mar com suas tochas acesas, e ela ouviu as lindas coisas que eles diziam a respeito do príncipe; então rejubilava-se porque o salvara do furor das ondas encapeladas. Lembrava-se da doçura com que a sua cabeça lhe pousara no ombro, e a ternura com que ela lhe beijara a testa; de porém não sabia nada, nem sonhava que ela pudesse existir...

E a sereiazinha começou a amar cada vez mais a Humanidade, desejosa de viver entre aqueles cujo mundo parecia muito maior do que o dela. Os homens podiam cruzar o mar ajudados pôr navios, podiam subir montanhas muito acima das nuvens, e suas terras desdobravam-se em campos e florestas até onde a vista podia alcançar. Ainda havia muitas coisas que ela desejava saber, mas suas irmãs eram incapazes de responder a todas as suas perguntas. Dirigiu-se então à sua avó, pois a anciã conhecia muito bem o que denominava, com grande propriedade, "os países de mar acima".

sexta-feira, 11 de julho de 2008


A DESOBEDIÊNCIA DO CÃOZINHO.

Maria Hilda de J.Alão


Chuchuquinho era o quarto de uma ninhada de cinco cães da raça Labrador. Era lindo, tão lindo que os donos da casa, onde vivia com seus pais, resolveram que ele seria o cãozinho da filhinha mais nova. A mãe de Chuchuquinho cercava os filhotes de todos os cuidados. Não se descuidava da alimentação, da limpeza e da educação da sua prole. Assim eles iam crescendo fortes, saudáveis e muito inteligentes. A mãe de Chuchuquinho ensinava a todos como respeitar os humanos e a natureza. O cãozinho ouvia, atentamente, os conselhos que sua mãe dava:
- Meus filhos, obedeçam a sua mãe, sempre. Estudem para ter conhecimento das coisas. Leiam muito, porque os livros são a fonte do saber. Se quiserem ser verdadeiros cães, aprendam a lutar por tudo que querem, sem ferir a sensibilidade dos outros. Aprendam a não pegar o osso que não lhes pertence. Sejam amigos de todos, incluindo os humanos.

E assim os cãezinhos iam crescendo entre brincadeiras e aprendizado.

Um dia, a mãe de Chuchuquinho encontrou, na calçada, um livro de Geografia. Pegou-o, com os dentes, e o levou para casa. Chamou os filhotes e começou a folhear o livro. Chuchuquinho foi o que mais se encantou como livro. Passava horas e horas lendo sobre rios e riachos, montanhas, mares e florestas. Ficou encantado. Como era o mais curioso dos cinco, se pôs a pensar:
- E se eu fosse conhecer tudo isso?
Lembrou-se das lições de obediência que sua mãe sempre dava. Ainda não era um cão adulto para sair por aí sozinho. Continuou lendo o livro. A curiosidade aumentava.
Um belo dia ele se aventurou. Afastou-se um pouco da casa onde vivia, e viu um panorama diferente. Muitos carros, tanta gente correndo pra lá e pra cá. Alguém pisou na sua patinha. Ganiu de dor. Assustou-se. Voltou para casa. A mãe o repreendeu:
- Não quero que saia de casa sem o meu consentimento! Se isso acontecer novamente ficará de castigo.
Chuchuquinho ficou triste. Queria tanto saber como era o mundo sobre o qual ele lera naquele livro. Um dia ele ouviu uma conversa dos donos da casa. O homem dizia para a mulher:
- Amanhã eu vou pescar no rio com uns amigos. Por isso quero que prepare a minha sacola com as coisas que preciso. Levarei o cão comigo porque pretendemos caçar alguma coisa. Chuchuquinho já havia visto seu pai sair com o dono da casa e voltavam sempre com muitos pássaros mortos. Foi aí que ele bolou o plano. Esconder-se-ia na carroceria da caminhonete e quando chegasse no lugar da pesca ele desceria para explorar o mundo. Assim fez. E lá se foram o homem e seus amigos para a caça e pesca com o Chuchuquinho escondido numa caixa.
Assim que chegaram, tiraram os apetrechos de caça e pesca da caminhonete. Chuchuquinho tremia pensando na possibilidade de ser descoberto. Ouviu o latido de seu pai. Percebeu que tinham se afastado. Saiu do esconderijo. Olhou a sua volta. Era mato só. Mas ele gostou do que viu. Tanto pássaro cantando, coelhos correndo, veado saltando, ficou encantado. Era mesmo como o livro dizia. Agora queria ver o rio. Andou um pouco mais mato adentro. Lá estava ele. Imenso, barulhento, mas, ao mesmo tempo tão doce. A água transparente deixava ver os peixes nadando. Chuchuquinho até viu a sua imagem no espelho da água. Pensou:
- Até que eu sou um cão bonitinho. Também sou muito valente. Eu vou conhecer a geografia. E continuou a caminhar. Chegou até a montanha. Olhou para cima e exclamou:
- Caramba, como é grande! É maior do que no livro.
Andou mais um pouco. Foi para o lado direito da montanha. O que ele viu o deixou deslumbrado. Era uma cachoeira. Branca, tão comprida que mais parecia um longo véu de noiva. Já estava cansado de andar. Resolveu voltar para a caminhonete. Agora ele não sabia se estava no caminho certo. Já havia andado bastante e ainda não avistara o veículo. De repente, pumba, ele caiu numa armadilha de caçador que fez um tremendo barulho. Sua patinha ficou presa numa coisa, que ele não sabia o que era. Doía muito. Começou a ganir. Passou um tempo e ele ouviu vozes e um latido de cão. Eram os homens felizes porque haviam capturado uma lebre. Quando chegaram mais perto, Chuchuquinho reconheceu a voz do homem e do seu pai. Aproximaram-se da armadilha para retirarem a pretensa lebre, quando o homem exclamou:
- Chuchuquinho, é você!
- au, au, au. Fez o Chuchuquinho, morto de medo.
Tiraram o cãozinho da armadilha, enfaixaram a sua patinha, depois de medicada com os primeiros socorros. Partiram para casa. Chuchuquinho, tremendo de medo, olhava para o pai que nervoso dizia:
- Pensou na sua mãe, seu cãozinho maluco? Quando chegarmos você vai saber o que é bom pra tosse. Podia ter morrido se aquela armadilha pegasse no seu pescoço. Como pôde arriscar a vida por causa da curiosidade, seu desobediente? Eu sabia, eu sabia que um dia você ia fazer uma besteira.
Chegaram em casa. A mãe de Chuchuquinho veio correndo para encontrar o pai e falar do desaparecimento do cãozinho. Não foi preciso. Quando ela avistou o filho, correu para ele ganindo de alegria. Então o pai contou a história. A mãe disse severamente:
- De hoje em diante, você está proibido de chegar até o portão da casa sem que eu saiba. Ficará, duas semanas sem comer ossinho, uma semana sem brincar com seus irmãos na beira da piscina da casa, até aprender a obedecer.
Chuchuquinho dizia, entre lágrimas:
- Está bem mamãe, está bem mamãe...


Moral: A desobediência pode trazer trágicas conseqüências.

quinta-feira, 10 de julho de 2008


A BARATA E A VASSOURA

Maria Hilda de J. Alão.

Uma barata atrevida entrou, por uma janela, na casa limpíssima de uma senhora. Vendo a intrusa andando apressada pela cozinha, a senhora muniu-se de uma vassoura e passou a perseguir a barata dando vassouradas a fim de colocar para fora o asqueroso inseto. Mas a bichinha, rápida como ela só, conseguiu escapar e foi se esconder na área de serviço numa saliência da máquina de lavar.
Exausta e sem ver onde a barata se escondeu, a mulher pendurou a vassoura com o firme propósito de, no dia seguinte, continuar com a perseguição.
Anoiteceu. A barata continuava lá no seu esconderijo bem quietinha, porém o seu estômago roncava de tanta fome. O medo a fazia agüentar. Pensava:
- Seu sair agora a mulher me pega... o melhor é esperar...
E quando o silêncio se fez na casa, ela foi saindo devagar, silenciosamente. Caminhou um pouquinho. Olhou ao seu redor. Não havia ninguém. Avançou mais um pouco e, de repente, ouviu aquele barulho de cerdas duras raspando o chão: chap, chap, chap.
Olhou assustada e viu que era a vassoura, pendurada num prego, que fazia movimentos para atingi-la. Sabendo que a vassoura não podia sair dali sem ajuda, a barata partiu para a cozinha a procura de comida. Subiu pelo pé da mesa e chegou até o cesto de pães coberto com uma toalhinha branca. Infiltrou-se por baixo da toalhinha e roeu, roeu cada pão com gosto. Era um sabor indescritível.
Satisfeita, ela desceu pelo mesmo lugar que subiu. Andou, no escuro, pela casa toda deixando o seu cheiro e as fezes, em forma de bolinhas, por todos os lugares. Voltou para a área de serviço e parando diante da vassoura disse:
- Sofreste tanto para me expulsar e aqui estou eu de barriga cheia, enquanto tu, escrava, estás aí pendurada. Nada podes fazer. – e pondo as patinhas na cintura ela fez caretas para a vassoura cantando:
- nhã, nhã, nhã, nhã...
A vassoura ficou nervosa, rebolava, rebolava, mas do prego ela não saía.
- Mas que barata atrevida... e eu sem poder fazer nada...
E antes que amanhecesse e a dona da casa se levantasse e desse de cara com ela, a barata subiu pela parede da área de serviço, na direção de uma fresta do vitrô e, antes de sair e ainda rindo da vassoura, despediu-se:
- Adeus! Espero que a tua dor de cabeça sare logo... foram tantas as pancadas para me atingir... nhã, nhã, nhã, nhã...
E saiu descendo pela parede exterior do prédio rumo ao seu ninho num lugar que só ela sabe.

quinta-feira, 3 de julho de 2008



















Os balões
Era uma vez, dez lindos balões de cores e números diferentes.
Até que um dia, eles resolveram ir passear na floresta. Estavam em grupo. Até que um dos balões percebeu que o número sete não estava lá. Os balões combinaram então, de
cada um ir para um lado e procurar o sete. Encontrariam-se no mesmo lugar depois de meia hora.
Passado algum tempo eles voltaram e nenhum tinha achado o sete.
Continuaram procurando, mas depois de procurarem um tempão, eles desistiram e resolveram voltar para casa.
Ao chegar em casa , alguém bate na porta. O nove foi atender. E adivinhem quem era? O sete!
Os números não paravam de perguntar onde é que ele estava. E ele respondia que não sabia que eles tinham ido à floresta procurá-lo.
O balão sete, muito vaidoso, foi comprar uma blusa, vejam só!
Finalmente os balões estavam juntos novamente.
História do Igor Rosiello Zenker(9 anos)

quarta-feira, 2 de julho de 2008



















O outro lado
Era uma vez, uma linda princesinha chamada Juju.
Ela morava em um castelo muito bonito com sua mãe, a rainha Dani e o seu pai o rei Tchelo.
Juju tinha tudo que sonhava, bastava ela pedir e rapidamente seu desejo virava realidade. Porém a menina vivia tristinha e muito solitária.
Um dia Juju pediu para a rainha :
- Mamãe, tenho tantos brinquedos , mas não tenho com quem brincar, quero ter amigos...
A rainha achava que dando tudo para a princesinha, já era o bastante. E agora não sabia o que fazer, não poderia comprar amigos para a filha.
Sem saber como resolver a situação a rainha perguntou ao rei Tchelo o que deveriam fazer, mas o rei também não tinha a solução.
E a princesa não queria mais brincar sozinha. E cada dia se sentia mais triste.
A rainha teve então uma grande idéia ! Tiraremos nossas roupas reais e nos tornaremos plebeus por alguns dias, mostraremos para a Juju que viver aqui é melhor, assim ela não nos pedirá o que não podemos dar.
E será novamente feliz.
E foi o que fizeram. A rainha , o rei e a princesa colocaram roupas comuns e foram morar em um um pequeno povoado de pessoas comuns bem longe do seu reino. Lá chegando, a princesinha pode ver crianças brincando, subindo em árvores, e fazendo tudo que ela nunca havia feito.
Conheceu duas amigas chamadas Aninha e Lulu e brincava com elas dia e noite.
O rei e a rainha também fizeram amigos que gostavam deles pelo que eram de verdade.
Conheceram a verdadeira felicidade.
No dia marcado para voltar ao reino, o rei Tchelo decidiu :
- Não quero mais ser rei,ficaremos aqui para sempre !
A rainha e a princesinha aprovaram a decisão real, e viveram no povoado de pessoas comuns felizes para sempre !



História da Danielle

terça-feira, 1 de julho de 2008


A Lua Teimosa

Lua teimosa, não saía do céu e já ia dar meio-dia. É que o sol não tinha aparecido, atrasou-se sei-lá-eu o porquê.
Daí a Lua viu o céu assim, todo azulado e ocupou o espaço mais e mais até esponjar-se toda e ficar. Mas lugar de lua não é neste céu de meio-dia, era o que diziam as nuvens, algumas irritadas, outras nem tanto e outras nem nada diziam, só nuvavam.
Mas a Lua não se importava, não ligava, não dava ouvido a nada, até porque Lua não tem ouvido mas escuta e muito bem.
Ficava no céu e pronto.
Até que achava muito bom ver o dia nascer de vez em quando.
Era época de lua minguante e por isso, andava a Lua tão fina de quebrar; meia-lua, meio-dia, meio clara meio escura, vivendo o espaço do Sol.
Bem, mas como não estava acostumada a ficar assim, acordada de dia, danou a Lua a bocejar... abrir aquela boquinha disfarçada, depois aquele bocão de Lua quando está com sono... por descuido, engoliu até algumas nuvens e brincou de algodão-doce no céu. Ali, pestanejou e dormiu.
Dormiu e sonhou.
O sonho da Lua minguada encheu-se de Sol.
Sonhou pipa, pássaros, poesia. Sonhou cisnes, saveiros e sereias. Sonhou várzeas, vidas e ventos. Sonhou lírios e lábios.
Sonhou liberdade.
E o sonho, de tão sonhado, brincou enrolado em estrelas, dependurou-se em arco-íris, balançou-se qual criança feliz.
Iluminou campos e rios. Então, imensamente nova, a Lua acordou.
Com o entreaberto do olho, pôs-se a rir (aquele risinho de dentro que ninguém sabe que é riso). Achou engraçado todo mundo esperar o Sol. E ficou a Lua, teimosamente no céu de meio-dia que já quase a pertencia. Bem verdade que uma tarde era vinda posto que a Lua havia adormecido por uma hora e alguns outros minutos que não sei bem o quanto. E uma noite logo surgiu e de novo o dia...
As primaveras foram vindo e indo.
Os invernos e os verões.
Outonos varavam.
Era um crescer e um minguar, um encher e um novar sem fim.
A cabeça dos "lá-de-baixo" não entendia nada.
- Afinal, por onde andaria o Sol?
Umas bocas reclamavam. Alguns olhos só olhavam. Outras pernas só passavam e teve quem nem sentisse nada diferente. E foram parando de reclamar. Foram parando de olhar até que foram se acostumando e se acomodando sem o Sol.
As plantas e os bichos também muito sentiram, depois nem tanto até que aprenderam a viver com os raios prateados da Lua que tomava cada vez mais conta do céu.
O tempo foi passando.
(.....)
Um dia desses, em que a Lua já havia feito ninho no céu pois tinha pertences de lua por toda parte: orvalho pros cabelos e batom prateado, vestidos rodados e coloridos, sapatos de saltos os mais variados além de outros apetrechos... pois é... nesse dia, o Sol apareceu.
Estava meio avermelhado de vergonha, meio atrasado, quer dizer, muito atrasado... - quantas luas haviam passado? Muitas luas. Poucos sóis.
Ele foi logo dizendo que...mas... sabe? Bem... não ia demorar, porém, sabe como é que é, né? Tão somente, todavia, contudo, estava cansado; e agradecia à Lua por ter lhe dado férias mas... agora poderia deixá-lo a sós com o céu...
- A sós, Sol?












E a Lua dizia que os "lá-de-baixo" não sabiam mais quem ele era, o que fazia... tinha sido muito tempo, muita hora, ora ora!
Dai que o Sol, educadamente, foi conversando com a Lua , contando-lhe bonitas histórias de raios e luzes que existiam do outro lado do mundo. E, como ninguém resiste a uma boa história, a Lua foi-se deixando seduzir e quando deu por si, já era o Sol se abrindo no céu com toda sua cor aboborada, alaranjada, avermelhada.
Com todos os seus raios, seu poder e sua magia.
Foi acordando as pessoas daquele sonho longo de Lua, foi abrindo as gavetas, as roupas e as caras dos outros, foi trazendo sorriso e encanto; foi deixando para trás um outro tempo.
Expandiu-se.
Abraçou o céu.
Raiou.
(.....)
Era assim que a minha avó explicava para mim sobre aqueles dias nublados em que havia lua no céu.

Autora: Silvana Lima