sábado, 18 de outubro de 2008


O Coelhinho Joca

"Era uma vez quatro coelhinhos chamados: Bolinha, Mimoso, Algodãozinho e Joca. Eles moravam com sua mãezinha, embaixo de um grande pinheiro. Dona Coelha, precisando um dia sair para fazer compras, chamou-os e disse:

- Escutem, queridos, mamãe vai sair. Se vocês quiserem, podem dar uma voltinha, mas, por favor, não entrem na horta do Sr. Tinoco. Seu pai teve um acidente lá e nunca mais voltou para casa. Tenham juízo, filhotes, eu não me demoro.

Dona Coelha apanhou a sombrinha, a cesta de compra e foi à padaria. Comprou cinco bolinhos com passas e um pão de forma. Bolinha, Mimoso e Algodãozinho, que eram muito ajuizados, foram colher amoras. Joca, porém, que era muito desobediente, passou por debaixo da cerca e foi à horta do Sr. Tinoco. Lá chegando, comeu alfaces, cenouras e rabanetes, até não poder mais. Sentou-se para descansar um pouco. Exatamente ali, perto do canteiro dos repolhos, estava o Sr. Tinoco. Assim que avistou o coelhinho, correu ao seu encalço, de ancinho na mão.

Joca ficou muito assustado; corria para todos oslados e não conseguia acertar a saída. Perdeu um dos sapatos no meio dos repolhos, e o outro, perto das batatas. Cada vez ele corria mais. De repente, ficou preso, pelo botão do casaco, numa rede que protegia as uvas. Começou a chorar alto. Uns pardais muito bonzinhos, que voavam por ali, vieram consolá-lo.

Entretanto, o Sr. Tinoco não tinha desistido de pegá-lo. Ali veio ter, com uma enorme peneira na mão, pretendendo com ela prender o pobre bichinho. Nesse instante, porém, Joca deu um arranco e conseguiu desprender-se. No entanto, ficou sem o casaco e caiu em cima da caixa de ferramentas. Levantou-se depressa, e escondeu-se dentro de uma lata grande que viu à sua frente. A lata estava cheia de água e Joca estava muito suado; por isso, começou a sentir arrepios de frio e pôs-se a espirrar. O Sr. Tinoco, que o havia perdido de vista, descobriu o seu esconderijo e correu para a lata. O coelhinho, porém, foi mais ligeiro; pulou fora da lata e ocultou-se atrás de uns vasos de plantas.

O Sr. Tinoco já estava cansado de tanto correr à procura do coelhinho, de maneira que resolveu voltar para casa. Joca, quando percebeu que o seu perseguidor o deixara em paz, sentou-se para descansar. Estava quase sem respiração e tremia da cabeça aos pés. Além disso, não tinha a menor idéia de como sair dali.

Enquanto pensava na situação, apareceu um rato quecarregava, na boca, alimento para os seus filhinhos. Joca perguntou-lhe onde ficava a saída, mas ele não lhe respondeu, apenas sacudiu a cabeça. Então o coitadinho resolveu ir andando para ver se descobria alguma coisa.

Atravessou o jardim e chegou a um tanque onde o Sr. Tinoco costumava encher as latas de água. Ali estava sentado um gatinho, apreciando os peixinhos dourados que havia no tanque. Joca, a princípio, teve vontade de dirigir-lhe a palavra, mas pensou melhor e foi andando. Seu primo, o coelhinho Benjamim, sempre lhe contava histórias perigosas sobre gatos...

Um pouco adiante encontrou uma carrocinha. Subiu nela e olhou à volta. Lá adiante estava o seu inimigo, o Sr. Tinoco, cuidando de um canteiro. Do lado oposto, ficava o portão. Que alívio! Muito de mansinho, sem fazer barulho, foi ele se arrastando, até que se viu, são e salvo, perto do pinheiro onde ficava sua casa. Estava tão cansado que se deitou ali mesmo e fechou os olhos.

Dona Coelha estava preparando o jantar. Quando o viu ali fora, assim, abatido, ficou imaginando o que lhe teria acontecido. Ficou, porém, muito zangada quando viu que ele havia perdido os sapatos e o casaco. Levou-o, no colo, para a cama e notou que ele estava febril.

À hora do jantar, Bolinha, Mimoso e Algodãozinho foram para a mesa, comeram bolinhos com morangos e tomaram leite quentinho. Joca ficou na cama e tomou chá de limão.

No dia seguinte, ainda se sentia mal. Estava tão arrependido, que prometeu à mamãe nunca mais desobedecer-lhe e ser tão comportado quanto seus outros irmãos."

sexta-feira, 17 de outubro de 2008










O COELHO E O CACHORRO

Eram dois vizinhos. O primeiro vizinho comprou um coelhinho para os filhos. Os filhos do outro vizinho pediram um bicho para o pai. O homem comprou um pastor alemão. Papo de vizinho:
a.. Mas ele vai comer o meu coelho. b.. De jeito nenhum. Imagina ! O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos, pegar amizade. Entendo de bicho. Problema nenhum. E parece que o dono do cachorro tinha razão. Juntos cresceram e amigos ficaram. Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa.
As crianças, felizes. Eis que o dono do coelho foi passar o final de semana na praia com a família e o coelho ficou sozinho.
Isso na sexta-feira. No domingo, de tardinha, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche, quando entra o pastor alemão na cozinha.
Pasmo, trazia o coelho entre os dentes, todo imundo, arrebentado, sujo de terra e, é claro, morto. Quase mataram o cachorro.
a.. O vizinho estava certo. E agora ! ? b.. E agora eu é que quero ver ! A primeira providência foi bater no cachorro, escorraçar o animal, para ver se ele aprendia um mínimo de civilidade e boa vizinhança. Claro, só podia dar nisso.
Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora ? Todos se olhavam. O cachorro rosnando lá fora, lambendo as pancadas.
a.. Já pensaram como vão ficar as crianças ? b.. Cala a boca ! Não se sabe exatamente de quem foi a idéia, mas era infalível.
a.. Vamos dar um banho no coelho, deixar ele bem limpinho, depois a gente seca com o secador da sua mãe e o colocamos na casinha dele no quintal. Como o coelho não estava muito estraçalhado, assim fizeram. Até perfume colocaram no falecido. Ficou lindo, parecia vivo, diziam as crianças.
E lá foi colocado, com as perninhas cruzadas, como convém a um coelho cardíaco. Umas três horas depois eles ouvem a vizinhança chegar. Notam o alarido e os gritos das crianças. Descobriram !
Não deram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta.
Branco, lívido, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma.
a.. O que foi ? Que cara é essa ? b.. O coelho... O coelho... c.. O que tem o coelho ? d.. Morreu ! Todos:
a.. Morreu ? Ainda hoje à tarde parecia tão bem... b.. Morreu na Sexta-feira ! c.. Na Sexta ? d.. Foi. Antes de a gente viajar as crianças enterraram ele no fundo do quintal ! A história termina aqui. O que aconteceu depois não importa. Nem ninguém sabe. Mas o personagem que mais cativa nesta história toda, o protagonista da história, é o cachorro.
Imagine o pobre do cachorro que, desde sexta-feira, procurava em vão pelo amigo de infância, o coelho. Depois de muito farejar descobre o corpo, morto, enterrado. O que faz ele ?
Provavelmente com o coração partido, desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Provavelmente estivesse até chorando, quando começou a levar pancada de tudo quanto é lado.
O cachorro é o herói. O bandido é o dono do cachorro. O ser humano. Sim, nós mesmos, que não pensamos duas vezes. Para nós o cachorro é o irracional, o assassino confesso.
E o homem continua achando que um banho, um secador de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o animal desconfiado que tem dentro de nós.
Julgamos os outros pela aparência, mesmo que tenhamos que deixar esta aparência como melhor nos convier. Maquiada.
Coitado do cachorro. Coitado do dono do cachorro.
Coitado de nós, animais racionais.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008
















O Mito da Criação da Noite

Antigamente não havia noite. Era sempre dia. O Sol brilhava esquentando a Terra. A Lua e as estrelas eram como o Sol. Tudo era luz e claridade na aldeia e sua floresta. Os homens caçavam sem cessar e as mulheres trabalhavam sem descanso, pois era sempre dia, noite não havia. O Sol fazia seu percurso até o poente para então retornar pelo caminho inverso de volta ao nascente. Mauá controlava o Sol, a Lua e as estrelas, não permitindo que ninguém deles se aproximasse. Certa vez um homem quis saber como o Sol funcionava. Esperou que Mauá saísse para caçar e aproximou-se do Sol. Ao tocá-lo, o Sol quebrou, o mesmo acontecendo com a Lua e as estrelas. E a noite surgiu engolindo tudo. Os homens que caçavam na mata ficaram perdidos na imensidão do escuro. As mulheres mal conseguiam encontrar suas redes dentro da maloca. Crianças e idosos lamentavam-se do fundo da noite sem luz. Mauá voltou para consertar o Sol. Ao ver o homem que o havia quebrado, Mauá lançou-se sobre ele e o atirou longe. Quando caiu, o homem transformou-se no macaquinho mão-de-ouro, escuro como a noite e com as mãos douradas como o Sol que havia tocado. Não foi possível consertar o Sol para que funcionasse como antes. Ele caminhava para o poente mas não conseguia retornar, sumindo no horizonte e deixando a Terra na escuridão. Mauá então fez com que a Lua e as estrelas surgissem na ausência do Sol para iluminar um pouco a noite. E é assim até hoje. Mauá é um ser criador que cuida dos elementos da Natureza; é o guardião da Vida.
Lenda dos índios Walmiri-atroari, Amazonas e Roraima

sexta-feira, 3 de outubro de 2008




Cachinhos de Ouro

Era uma vez... uma menina chamada Cachinhos de Ouro. Ela gostava de passear pela floresta nas manhãs de primavera. Numa dessas manhãs, ela ia andando, andando, andando, quando avistou lá longe uma casinha. Curiosa, apressou o passo e logo, logo chegou bem perto.
Cachinhos de Ouro ficou encantada com a formosura da casa.
Mas nunca imaginaria que ali moravam o Senhor Urso, a Dona Ursa e o filhote do casal, o Ursinho.
Cachinhos de Ouro, ao ver que a casa estava fechada, espiou pela janela e viu que não havia ninguém. Deu uma volta ao redor da casa e nada, ninguém... Então, ela teve a certeza de que os donos daquela casa tinham saído.
Mas ela não queria voltar pra casa sem ver o que havia dentro daquela casinha. E com um forte empurrão, conseguiu abrir a porta e entrou. Na sala havia uma mesa com três pratros cheios de sopa. A menina, que estava com muita fome, sentou-se e rapidinho tomou a sopa.
Em seguida, ela sentou na cadeira do senhor Urso; depois, na cadeira do Dona Ursa e, por fim, na cadeirinha do Ursinho, que era a mais bonitinha e muito gostosa de se sentar. Logo que ela sentou, ela começou a se espreguiçar. Ah! Ah! Foi quando a cadeirinha... ploft... quebrou, e a menina foi ao chão.
Daí, Cachinhos de Ouro foi até o quarto e lá viu três camas. Deitou na cama do senhor Urso, depois na cama de Dona Ursa. E a caminha do Ursinho, assim como a cadeirinha, parecia a mais gostosa de todas pra se dormir. Não parou para pensar. Deitou-se nela e acabou dormindo suavemente.
A família Urso, que despreocupada passeava pela floresta, resolveu voltar. Ao chegarem, logo perceberam que alguém tinha tomado a sopa toda. Aí o Ursinho exclamou:

- Alguém tomou a minha sopa!

Viram depois que alguém tinha sentado em todas as cadeiras da casa. E imediatamente o Ursinho berrou:

- Minha cadeirinha está quebrada!

Os três olharam muito espantados e foram juntos para o quarto pra ver se alguma coisa tinha acontecido ali também. E o Ursinho gritou logo:

- Tem alguém dormindo na minha caminha!

Com os gritos do Ursinho, Cachinhos de Ouro acordou muito assustada... porque se viu frente a frente com toda a família Urso. Então, ela pulou da cama e, muito envergonhada, pediu desculpas e saiu correndo pra casa.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O príncipe sapo


O PRÍNCIPE SAPO



Era uma vez um rei que não tinha filhos e tinha muita paixão por isso, e a mulher disse que Deus lhe desse um filho mesmo que fosse um sapo. Houve de ter um filhinho como um sapo; depois botaram as folhas a ver se havia quem o queria criar, mas ninguém se animava a vir. O rei, vendo que o sopito do filho não havia quem o queria criar, anunciou que, se houvesse alguma mulher que o quisesse criar, lho dava em casamento e lhe dava o reino. Nisto aí apareceu uma rapariga e disse: «Se Vossa Real Majestade me dá o filho, eu animo-me a vi-lo criar.» O rei disse que sim e a rapariga veio criar o sopito. Depois passou algum tempo e ele foi crescendo e ela lavava-o e esmerava-o como se ele fosse uma criança. Foi indo e ele tinha uns olhos muito bonitos e falava, e a rapariga dizia: «Os olhos dele e a fala não são de sapo.» Já estava grande, passaram-se anos e ela, uma noite, teve um sonho em que lhe diziam ao ouvido que o sapo era gente, mas pela grande heresia que a mãe disse que estava formado em sapo, que se o rei lho desse para ela casar com ele que casasse e quando fosse na primeira noite que se fosse deitar, que ele tinha sete peles e ela levasse sete saias e quando ele dissesse: «Tira uma saia», lhe dissesse ela: «Tira uma pele.» Assim foi e casou o sapo com a rapariga e na noite do casamento ele pediu-lhe que tirasse ela as saias e ela foi-lhe pedindo que tirasse as peles e depois de ele as tirar ficou um homem. Ao outro dia ele tornou a vestir as peles e ficou outra vez sapo. E ela disse-lhe: «Tu para que vestes as peles? Assim és tão bonito e vais ficar sapo.» «Assim me é preciso, cala-te.» Ela, assim que se pôs a pé, foi contar tudo à rainha, e o rei mais a rainha disseram-lhe: «Quando hoje te deitares, diz-lhe o mesmo e depois de ele tirar as peles e estar a dormir, deixa a porta do quarto aberta que nós queremos ir vê-lo.» Foram-no ver e viram que ele era homem. Ao outro dia o príncipe tornou a vestir as peles e vai o pai disse-lhe: «Tu, porque vestes as peles e queres ser feio?» «Eu quero ser sapo, porque o meu pai tem mão interior e, se eu fico bonito, impõem a minha mulher.» O rei disse-lhe: «Eu não a impunha, mas queria que tu ficasses bonito.» Depois, como viram que ele não queria deixar de ser sapo, pediram a ela que, assim que ele adormecesse, lhes trouxesse as peles para eles as queimarem. Ela assim fez e eles botaram as peles ao fogo aceso. De manhã vai ele para vestir as peles e não as acha. «Que é das peles?» «Vieram aqui o teu pai e a tua mãe e levaram-nas.» «Mal hajas tu se lhas destes, mais quem te deu o conselho. Adeus. Se alguma vez me tornares a ver, dá-me um beijo na boca.»

A mulherzinha ficou mas o rei e a mulher, assim que viram que o filho faltou, puseram-na fora da porta. Ela, coitada, não tinha com que se tratar; o que era do rei lá ficou e ela estava muito pobrezinha. A todas as pessoas que via perguntava se tinham visto um homem assim e assim e lá lhe dava as notícias do príncipe. Vieram por onde ela estava uns cegos e ela fez-lhes a pergunta. Os moços dos cegos disseram-lhe: «Nós vimos no rio Jordão um homem e certamente era ele; estava botando fatias de pão para trás das costas e dizendo: «Pela alma de meu pai, pela alma de minha mãe, pela alma de minha mulher.» Ela disse-lhes: «Vocês quando tornam para essa banda?» «Nós para o fim do outro mês voltamos para lá; havemos de passar por esse rio.» A mulherzinha aprontou-se e foi com eles. Chegou lá e era o príncipe. Ela chegou ao pé dele e deu-lhe o beijo na boca como ele tinha dito e disse-lhe: «Ora vamos embora, que se acabou o nosso fado.» E foram para casa e foram muito felizes e tiveram muitos filhos.