sábado, 18 de julho de 2009

A VASSOURA DEPRIMIDA

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Maria Hilda de J. Alão.

Era uma vez uma vassoura que vivia atrás de uma porta. A coitada não era usada como antes. Estava velha, acabada. A dona da casa já não precisava tanto dela. Um dia, muito triste, a vassoura resolveu desabafar com o pano de chão que estava pendurado num prego.

- Pois é amigo. Um dia eu cheguei nesta casa e tinha muito chão para varrer. Lavava o imenso quintal, vasculhava as paredes, deixava quartos, salas e banheiros brilhando de tão limpos. Agora, meu amigo, eu sou nada. Veja o meu fim, a minha decadência.

- É, dona vassoura – disse o pano de chão – o tempo passa e chega o dia da aposentadoria. Olhe para mim, eu já estou quase me aposentando. Já estou desfiando nas laterais, tenho um pequeno furo no meio, estou encardido, logo serei substituído por outro novinho em folha.

- Não estou me referindo a estado de conservação, estou falando de erradicação, ser banida, substituída por um tal de aspirador de pó, essa máquina infernal, barulhenta, sem história, sem tradição.

- Mas dona vassoura, isso não é bom? A senhora pode descansar, ficar quietinha aí no canto, sem ter que trabalhar tanto.

- Não, meu amigo. Não posso parar. Tenho de cumprir a minha sina.

- Amiga, não fique angustiada. Nada nem ninguém pode negar o seu valor na história. Sabe que você representa o poder feminino de efetuar a limpeza da eletricidade negativa dos ambientes?

- Eu sei, meu amigo... Por isso as minhas ancestrais eram feitas de ramos de louro, arruda, manjericão, alecrim, alfazema. As donas de casa juntavam todas as ervas ou escolhiam uma que amarravam em torno de um galho construindo uma vassoura perfumada para purificar o ambiente.

- Isso é tão bonito, dona vassoura! – exclamou o pano de chão comovido.

- É meu amigo, mas existe o lado oposto.

- Lado oposto? Que lado é esse?

- Antigamente diziam que nós, as vassouras, éramos avião de bruxa. Que as feiticeiras da Idade Média viajavam pelos ares cavalgando as vassouras. A partir dessa crendice a vassoura se tornou, na Europa, um amuleto de poder maléfico.

- Cruz credo, amiga.

- As vassouras faziam parte do folclore de alguns países, não é verdade dona vassoura?

- Sim, meu caro! Dos romanos aos chineses. Tínhamos significado fálico, afastávamos mau-olhado e pessoas indesejáveis.

- Batiam nas pessoas?

- Não, meu querido. Éramos colocadas atrás de uma porta com o cabo para baixo e o indesejável ia embora rapidinho.

- A senhora sabia que no Brasil existe a Nossa Senhora da Vassoura?

- Ah, está rindo mim, pano?

- Não amiga. É verdade. No Maranhão havia um cartaz-reclame de um determinado remédio representado por uma enfermeira vassourando remédios inúteis, ficou tão popular que terminou sendo a Nossa Senhora da Vassoura que nos livra dos maus remédios.

- Essa é boa, meu amigo!

- Não sei se você sabe, mas a crendice popular diz que cachorro que apanha de vassoura fica covarde e o gato fica ladrão.

- Puxa, você sabe tanta coisa de mim, meu caro pano de chão, que a minha tristeza está começando a passar.

- Fico feliz, dona vassoura. Aposentadoria não é o fim do mundo. Veja quanta coisa boa as vassouras fizeram, ao passo que o aspirador de pó não tem um currículo igual ao seu. Você ainda tem serventia.

E o pano de chão deu uma risadinha ao ouvir a voz da dona da casa dando ordens à empregada:

- Maria, traga o pano de chão e aquela vassoura velha para limpar a casinha do cachorro.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A DISCUSSÃO DOS TALHERES

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Garfo, faca e colher estavam numa gaveta discutindo um assunto sério: quem era o melhor e o mais útil no mundo dos homens. A faca, vaidosa, dizia:

- Eu facilito a vida do homem. Corto coisas enormes que ele jamais poderia utilizar ou comer sem a minha ajuda.

O garfo, muito metido, disse com empáfia:

- Sem mim os homens teriam de usar os dedos para levarem os alimentos à boca, e como esquecem de lavar as mãos engoliriam tanta bactéria que teriam indigestão bacteriana.

- Você sabe por que o homem comia com os dedos?

- Não. – disse o garfo.

- Porque achavam que o alimento era sagrado e por isso devia ser comido com os dedos.

- Mas sem lavar as mãos, não é dona faca? Eu continuo dizendo que sou a ferramenta indispensável na mesa dos humanos.

A faca, nervosa, retrucou:

- Deixa de ser burro, garfo tonto. Garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro, um não funciona sem o outro. Eu sou talher mais antigo da história! Fui feita de pedra e servia para a caça e defesa. Depois passei a ser feita de bronze, isso numa outra época.

- Eu sei, seu bobo enxerido, que o homem oriental usava pauzinho a guisa de garfo, feito de bambu e tinha um nome engraçado, hashi. Isso você não sabia. Sabia? Sei, também, que apesar de você ser antigo só chegou ao mundo ocidental no século XI, na Itália. Você foi criado pelos gregos e adotado no século VII pelo Império Bizantino. Na Inglaterra, até o início do século XVII você era considerado utensílio efeminado.

- Não fale assim de mim, dona faca. – choramingou o garfo - Eu não sou efeminado. Eu nasci para facilitar, não para complicar. Eu sei tudo isso que você falou. Sei que ainda hoje, entre os orientais, permanece o uso dos pauzinhos. Com os pauzinhos o homem demorava muito tempo para comer. Cada vez que ele pegava uma porção para levar à boca, caía tudo de volta para o prato. Comigo não. Ele me enche de comida e eu entafulho a sua boca.

- Você, seu garfo, é malvado porque incita o homem a comer demais e muito rápido. O costume de comer muito e rápido é prejudicial à saúde. Os pauzinhos são uma forma de disciplinar a alimentação. Aos poucos e devagar. Com eles não se pode pegar um bolão de comida.

- Não adianta, dona faca, sem esse garfinho aqui o homem é nada vezes nada.

- Ora, não seja convencido! - exclamou a faca – às vezes você machuca a boca das pessoas.

- Ah, é!? E você que corta os dedos das crianças.

- Só das crianças desobedientes. Eu ouço sempre as mães dizendo:

- Crianças não brinquem com facas...

E o garfo exultante acrescentou:

- Viu, viu como eu sou mais útil do que você? Eu nunca ouvi uma mãe dizer: - Não peguem o garfo, crianças! Ah, ah, ah, eu sou bom demais!!!

- Pode rir seu bobo. – disse a faca amuada – o seu deboche não me atinge, porque eu sei que você também é perigoso nas mãos das crianças.

E a discussão continuou. A colher, que estava quietinha lá no seu cantinho, numa das divisões do porta-talher, interferiu:

- Dá licença!

- Pois não, dona colher – disse o garfo.

- Vocês estão nessa discussão boba de quem é melhor, quem é mais útil sem pensar que somos um conjunto. Deus permitiu que o homem tivesse a inspiração para nos criar e fazer de nós o pai, o filho e o espírito santo das cozinhas. Somos a tríade que facilita o trabalho de preparar e ingerir os alimentos. A minha história é meio nebulosa. Foram encontrados, em escavações, objetos semelhantes a mim, provavelmente, com mais de vinte mil anos. Sei que os gregos antigos utilizavam a colher de pau para preparar e comer os alimentos. Como vocês podem ver a minha história não é tão interessante quanto as suas. O que tenho certeza é que já fomos objetos rústicos, hoje somos mais modernos. Somos feitos de metal, plástico e madeira. Somos até jóias feitas em ouro e prata. Mas a nossa função é a mesma, desde que surgimos na civilização: ajudar o homem na sua alimentação.

Nós somos a união, e a união faz a força. Lembrem-se que um é complemento do outro. E se é para se gabar de utilidade, eu quero fazer uma pergunta:

- Diante de um fumegante prato de sopa, quem é o mais útil? Ah, ah, ah, ah, peguei vocês.



Maria Hilda de J. Alão.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A TARTARUGA VOADORA






Maria Hilda de J. Alão.

Uma tartaruga queria muito conhecer terras estrangeiras. Um dia, estando ela num monte de areia depois de enterrar seus ovos, avistou um bando de patos selvagens que descansavam da longa viagem para fugir do frio do seu país. Os patos viajam sempre, vão a tantos lugares diferentes. Pensando nisso ela teve uma idéia: também iria viajar como os patos. Vagarosamente ela se aproxima do grupo e conta o seu projeto. O pato mais velho da turma disse:

- Isso é uma má idéia, uma loucura eu diria. A senhora vai demorar uma eternidade para conhecer todas as terras que nós conhecemos. Fique nesta bela praia para onde sempre poderá voltar.

A tartaruga, um pouco chateada com a conversa do velho pato, respondeu:

- Se eu voar não demorarei tanto tempo...

Dois patos jovens e afoitos, ouvindo a conversa, aproximaram-se dizendo:

- Nobre tartaruga, como não tem o poder de voar, nós estamos prontos para levá-la pelos ares para que conheça países maravilhosos. Somos jovens e fortes.

A tartaruga, feliz da vida, queria saber como eles fariam para levá-la pelos ares. Os patos disseram que era simples. Saíram e, depois de um tempo, voltaram com uma longa vara em seus bicos cada um segurando numa ponta.

- Vamos lá, distinta tartaruga, abra a sua boca e morda a vara, bem no meio, segurando bem com seus dentes para que nós levantemos vôo.

A pobre tartaruga foi suspensa no ar. Os bichos olhavam para cima admirados. Era um milagre. Uma tartaruga voadora. Em toda a história dos bichos jamais se ouviu falar de tal feito, de tal maravilha. Depois de um tempo de vôo os patos estavam cansados. A tartaruga era grande, muito pesada e não agüentando mais eles largaram a vara. A tartaruga caiu de costas ficando com as quatro patas para cima. Esta não é uma boa posição para uma tartaruga, pensava ela já sentindo os efeitos do sol. Ouvindo um estalar de galho seco quebrado pediu:

- Quem quer que esteja aí, pode me pôr na posição certa para que eu volte à minha praia?

Era um grande macaco que passeava por ali. Ele se aproximou e foi logo dizendo:

- Por que deseja o impossível? Eu vi você nos ares com aqueles patos tolos. Tartarugas não foram feitas para voar, caso contrário teriam nascido com duas asas e penas. E se eu não estivesse por aqui?

E desvirou a tartaruga, que envergonhada e a passos lentos, voltou para a praia, para o seu mar seguro onde nadava velozmente.

Passado um tempo, na época da desova, a tartaruga encontrou o bando de patos selvagens. Os dois patos, da fracassada viagem, perguntaram:

- Vai tentar a viagem novamente?

- Não. Como disse o macaco, se Deus quisesse que eu voasse teria me dado duas asas e não este casco pesado.

E enterrando seus ovos na areia, a tartaruga voltou para o seu lar verdadeiro, o mar.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

AS MÃOS



Maria Hilda de J. Alão.

No tempo dos reis, das fadas e das bruxas, três homens viajavam num barco quando uma tempestade afundou a embarcação indo os três, depois de muito nadarem, parar na praia de um país desconhecido. Os homens eram de classes sociais diferentes. Um era rico comerciante, o outro filho de um rei valoroso e o outro era pastor de ovelhas que não eram suas.

Caminharam muito até chegarem numa cidade. Eles contavam sobre o naufrágio, das horas que passaram no mar lutando contra as ondas esperando, com isso, ajuda daquela gente. O povo olhava desconfiado para aqueles forasteiros maltrapilhos, barbudos e murmuravam palavras de esconjuro. O comerciante, acostumado à fartura da sua casa, falou:

- Estou cansado disso tudo. Que povo mais insensível! Nem um prato de comida, nem um catre para eu descansar meu corpo dolorido e ferido pelas agruras do azar.

Os outros dois não disseram nada. Estavam entretidos tentando acender um fogo, batendo duas pedras uma na outra, para cozinhar, numa lata com água do rio, umas folhas que mais pareciam capins. A idéia fora do pastor de ovelhas. Ele conhecia as plantas e sabia distinguir as comestíveis das não comestíveis.

Quase um mês havia se passado e nada. Numa noite de lua cheia e pouco fria, na gruta onde eles dormiam, os três conversavam analisando a situação que estavam vivendo.

- Eu sou comerciante, sei matemática como ninguém e de que me serve? Ela não mata a minha fome, não me aquece e não me faz voltar para casa.

O outro homem, o filho do rei, disse:

- Eu tenho fortuna, muitas terras, uma esquadra de navios que eu trocaria de bom grado por um prato de comida quente, um cobertor e a volta para casa.

Já o pastor de ovelhas, olhando sério para os dois, falou:

- Eu não tenho ouro, terras, navios, também não sou bom de matemática, de meu eu só tenho as minhas mãos.

Os outros dois não entenderam nada. Eles também tinham mãos. O que será que o pastor quis dizer? Foram dormir com o firme propósito de, no dia seguinte, oferecer seus conhecimentos para os moradores da cidade em troca de dinheiro para voltarem para casa. Amanheceu. Com os estômagos vazios, os três se separaram tomando rumos diferentes não sem antes combinarem o encontro na fonte da praça ao final do dia.

O comerciante visitou outros comerciantes que não estavam nem um pouco interessados nos seus conhecimentos de matemática. E o filho do rei? Ele oferecia dinheiro e terras fato que deixava as pessoas desconfiadas a ponto de expulsá-lo a chutes.

O pastor de ovelhas seguia por uma estrada quando avistou uma velha senhora que tentava, com um machado sem corte, partir ao meio um grosso tronco de árvore. Ele se aproximou e, gentilmente, disse:

- Se a senhora permitir eu racho este tronco.

- Ah, meu filho! Grata eu lhe serei por toda a vida. Depois que meus três filhos foram para a guerra eu tenho muita dificuldade para conseguir lenha para a lareira.

O pastor pegou o machado, afiou a lâmina com uma pedra, e partiu o tronco transformando-o num amontoado de lascas de lenha prontas para arderem na lareira da velha senhora. Ele carregou a lenha, arrumou-a em pilhas no celeiro, levou uma porção para dentro da casa empilhando ao lado da lareira. A senhora tinha lenha dentro da casa para mais de uma semana. Terminado o serviço, a senhora o convidou para cear.

- Meu filho, gostaria de fazer um acordo com você. Como você viu, eu tenho uma propriedade enorme e sozinha eu não dou conta do serviço. Preciso de alguém que me ajude. Eu pago bem. Então? Aceita?

O pastor de ovelhas, cujo nome era Salomão, contou para a senhora a história do naufrágio, falou dos outros dois homens, das necessidades que eles estavam passando. Ficou combinado que no dia seguinte Salomão levaria os dois para conhecerem a mulher. Antes de Salomão pegar a estrada rumo à fonte da praça, a senhora arrumou uma mochila com comida, algumas peças de roupas dos seus filhos, três cobertores e o pagamento pelo trabalho do pastor: cinco moedas de prata.

Quando chegou à praça lá estavam os dois de cabeça baixa. Não tinham conseguido nada. Ao avistarem Salomão foram logo perguntando:

- Conseguiu alguma coisa? – o filho do rei foi logo dizendo:

- Como poderia conseguir, ele não tem nada, não sabe nada a não ser guardar ovelhas...

Salomão ficou triste com a observação do príncipe, mas não disse nada. Caminharam em silêncio até a gruta. Só quando o pastor colocou a mochila no chão é que o comerciante perguntou:

- Onde achaste este alforje?

- Eu não achei, eu consegui com minhas mãos.

E contou para os dois sobre a velha senhora que morava só e que necessitava de mãos para ajudá-la no trabalho. No dia seguinte, depois de tomarem banho no rio e vestirem as roupas dadas por ela, os três se apresentaram e começaram a usar a mais perfeita ferramenta que Deus criou: as mãos.

Foi um tempo feliz. Os três se esmeravam no trabalho. A fazenda da mulher produzia a todo vapor. O que eles não sabiam sobre cultivo da terra a senhora ensinava. Já sobre as ovelhas, Salomão era conhecedor e passou todo o seu conhecimento para os outros. À noite, depois do estafante trabalho, a senhora sentava na sala aquecida pelo fogo da lareira e junto com o comerciante fazia o balanço dos gastos e dos ganhos, enquanto o príncipe, juntamente com o pastor, fazia planos para a próxima tosquia das ovelhas. Ficaram ali por um bom tempo.

Um dia, para surpresa de todos, os filhos da senhora voltaram da guerra. Foi uma alegria só.

Estava chegando a hora dos três homens voltarem para casa. Dinheiro eles tinham o suficiente, mas uma coisinha estava fazendo doer o coração. Era o amor que eles ganharam por aquela mulher corajosa. Ela era, para eles, a mãe e eles, para ela, os três filhos que estavam fora. Na despedida a senhora, abraçando cada um deles, dizia que se sentia do mesmo jeito que se sentiu quando seus filhos partiram para a guerra. Para consolo, ficou a promessa de voltarem um dia trazendo as suas famílias.

E assim, meus amigos, o comerciante aprendeu que diante de certas situações os conhecimentos intelectuais não valem nada. E o príncipe que a riqueza é mais pobre que a pobreza quando se tem frio e fome e se é desacreditado em terra estranha. Já Salomão, além do seu conhecimento sobre ovelhas, aprendeu a matemática do comerciante para calcular o lucro da produção de leite, lã e carne de ovelha do seu futuro rebanho regido pelas mãos que Deus lhe deu.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Leãozinho Orgulhoso



Os bichos andavam alarmados, com medo do homem perigoso. Nem sabiam que jeito tinha, mas o leãozinho vaidoso convidou sua amiga, a patinha:

Venha ver, com ele vou lutar. Essa caçada, tão diferente, é o que agora vou contar.
Numa linda ilha no meio do mar, rica de árvores, de frutas, de flores, rios, lagos e cachoeiras, viviam em liberdade mil espécies de animais. O homem não tinha chegado até lá e nenhum dos animais que moravam ali o conhecia.


Certa noite, uma patinha que vivia nessa ilha teve um sonho maravilhoso.
Apareceu-lhe a rainha das patas, que lhe revelou um segredo, dizendo-lhe bem claro:

- Se você nadar três dias e três noites seguidas, em direção ao levante, encontrará uma terra encantada.



A patinha acordou e se pôs imediatamente a caminho. Depois de dois dias de viagem pelo mar, chegou à praia e se atirou na areia, quase morta. Tinha nadado tanto! Dormiu de cansaço e tornou a sonhar com a rainha que lhe dizia:

- Patinha, você se enganou! Eu disse para nadar para o levante e não para o poente. . . Vindo para cá, você cometeu um erro, pois aqui vive um ser terrível: o homem! Tome cuidado!

A patinha acordou sobressaltada. Cheia de medo saiu correndo à procura de um abrigo contra o ser terrível que se chamava homem.

Por fim encontrou um leãozinho, que de preguiça nem abriu os olhos quando lhe indagou:
- Quem é você e a que espécie animal pertence?
- Sou uma patinha, da família das aves. E você?

O leãozinho entusiasmou-se e respondeu cantando:

" Da floresta eu sou rei (por enquanto é o meu pai, mas um dia eu serei). Sou feroz e poderoso, todos ficam a tremer quando urro majestoso. Que raiva, se desafino e Mamãe fico a chamar."
A patinha tremendo de medo, pediu ajuda àquele personagem tão importante que tivera a sorte de encontrar, dizendo:

- Você, que é filho do rei da floresta, podia tentar liquidar o homem, para os animais viverem tranquilos.-
- Você tem razão, patinha. . . Meu pai me aconselhou a fugir do homem, mas já estou bastante grande para atacá-lo. Venha comigo.

E o leãozinho pôs-se a caminhar seguido pela patinha, que tentava acertar o passo pelo dele, muito confiante.

- Veja, patinha! Que nuvem de poeira!

- Não será o homem? - indagou ela.

- Acho que não. . . -respondeu o leão. - É um quadrúpede!

Quando se aproximaram, indagou:

- Animal desconhecido, diga quem é!

Diante deles estava um burrinho, que disse:

- Pertenço à espécie asinina e estou fugindo do homem. Ele quer que eu trabalhe muito e coma pouco.

- Que vergonha! - falou a patinha.

- Você teve muita sorte em me encontrar - afirmou o leãozinho. - Estou conduzindo meu exército contra o homem.

- Que exército? - quis saber o burro.

O leãozinho não se apertou:

- Bem, por enquanto o meu exército é esta patinha. Mas, se você se une a nós, eu dou a você o posto de cabo e a patinha eu deixo como simples soldado.

- Aceito - concordou o burro, zurrando de satisfação com o posto.
A patinha não entendia nada de postos, por isso nem ligou. O pequeno exército continuou sua marcha em busca do homem. Daí a pouco apareceu no horizonte outra nuvem de pó.O leãozinho ordenou:- Batalhão. . . alto lá! Estão ouvindo um galope? - E, dirigindo-se ao cavalo que se aproximava, indagou - Quem é você e por que corre assim?



- Eu sou um cavalo, pertenço à espécie equina e corro para fugir do homem, que tem mania de montar nas minhas costas - explicou o recém chegado.


- Venha conosco e estará seguro - convidou o leãozinho.

- Vou mesmo com vocês - afirmou o cavalo.

- Batalhão. . . marche! - comandou o capitão leãozinho.

Retomaram o caminho até que o leãozinho ordenou:

- Batalhão. . . alto!

- Mais uma nuvem de pó - observou a patinha. - Quem será agora?

- Silêncio aí na tropa! Falo eu, que sou o comandante. Vejam! Era um camelo, por isso a nuvem de pó desta vez era tão grande.


Sim, sou um camelo e estou correndo para fugir do homem.

- Não diga! Até você, que é desse tamanho? - admirou-se o leão.

- O homem tem algo mais que a força, é a astúcia - esplicou o camelo e isto o ajuda a vencer sempre.

- Veremos! - disse o leãozinho. - Vamos combater o homem. Quer vir conosco?

- De boa vontade- respondeu o camelo. - Quero ver o que vocês vão fazer quando o encontrarem.

- Batalhão. . . marche!

O leãozinho seguiu à frente da tropa, até que de novo ordenou:

- Batalhão. . . alto!

- Não estou vendo nenhuma nuvem de pó- observou a patinha.

- Silêncio aí na tropa! Quem fala sou eu! Não é nenhuma nuvem de pó. É um ser estranho que carrega madeira na cabeça e traz pendurada no braço uma caixa com os ferros!

- Não será o homem? - indagou a patinha.

- Batalhão. . . alto! - comandou o leãozinho. - Eu, que sou mais forte, vou descobrir quem é este ser estranho.
O ser era mesmo um homem, um carpinteiro, carregando madeira e ferramentas. Quando viu o leãozinho, planejou logo capturá-lo. Decidiu que o melhor meio seria usar astúcia e por isso falou manhoso:

- Filho do rei da selva, ajude-me, que estou em apuros.

O leãozinho achou que o estranho reconhecia sua superioridade e respondeu:

- Diga-me antes a que espécie pertence e qual é o seu problema.

- Pertenço à espécie dos carpinteiros e sou perseguido pelo homem.

- Venha comigo, que vou liquidar o homem - rugiu o leãozinho.


- Não posso ir junto porque tenho de levar estas madeiras que carregava na cabeça.


- Para quem você vai levar essas madeiras? - quis saber o leãozinho.

- São uma encomenda do ministro do pai de Vossa Alteza. Quer que eu faça uma casa para ele.


- E você vai fazer a casa da pantera, que é apenas o ministro do meu pai, antes de fazer a minha, que sou filho do rei da floresta?

- Posso fazer uma casa para você - assegurou o carpinteiro, mas eu nem sabia que você queria uma casa!

- Quero a casa e exijo que seja imediatamente - ordenou o leãozinho.
Conforme disse, o leãozinho ergueu as patas da frente e empurrou o carpinteiro pelos ombros fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado no chão.

- Quero que faça uma casa para mim.

- E a pantera? - indagou o carpinteiro.

- A pantera que se dane! Comece logo a minha casa.

O carpinteiro que era muito manhoso, tinha conseguido o que queria. Desde o começo que não contara que era um homem, fizera o plano de aprisionar o leãozinho e só para lográ-lo inventara essa história de construir uma casa.

Quando o trabalho já estava quase pronto, disse com muito jeito:

- Experimentar para quê?

- Não quero que depois você se queixe que ficou muito estreita ou mal ventilada - explicou o carpinteiro.
O leãozinho meteu-se na caixa, embora com certa dificuldade, queixando-se:

- Puxa! Não consigo enfiar todas as pernas aqui dentro!

O carpinteiro estimulava:

- Precisa um pouquinho de jeito para morar em casa.

O leãozinho suava para acomodar-se e dizia:



- Já estou quase dentro.

- Força, amigo!

- Agora vou experimentar o teto - falou o carpinteiro.

O carpinteiro bem depressa colocou a tampa na caixa e pregou com marteladas rápidas e seguras. Lá dentro o leãozinho gritava:

- Carpinteiro! Abra a porta, que a casa é muito estreita.

- Mais estreita vai ser a jaula - respondeu o carpinteiro.

- Você queria matar o homem e o homem aprisionou você.
Quer dizer que você é um homem? - admirou-se o leãozinho.

- Claro que sim - afirmou o carpinteiro. - E venci sua força e ferocidade com minha astúcia e inteligência.

Ao verem o que acontecia, o burro, o cavalo, o camelo e a patinha acharam que estava dissolvido o batalhão de caça ao homem.

O burro comentou:

O leãozinho caiu como um pato.

A patinha respondeu:

- Deixou-se prender como um burro, isso sim!

O cavalo aconselhou:

- Melhor voltarmos à nossa vida de antes.

- Acho que eu tenho mesmo é que puxar carroça - disse o burro.

- E eu de carregar o homem - conformou-se o cavalo.

- Eu vou me reunir a uma caravana no deserto - foi a despedida do camelo, afastando-se do grupo.

A patinha tomou o rumo do mar e se pôs a nadar em direção a sua ilha rica de árvores, frutas, flores, rios, lagos e cachoeiras, onde o ser terrível e astuto, chamado homem, não tinha chegado ainda.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Fantasminha Trapalhão



Que horror!
Vocês querem conhecer Ventinho,
o fantasminha trapalhão?
Venham comigo então!!

Num castelo mal-assombrado, vivia uma família de fantasmas:
O pai, fantasma Ventão, a mãe é a fantasma Ventania e seu filhos:Ventinho e Brisa.



As crianças, eram mesmo um horror.
Viviam assombrando todas as pessoas que por ali passavam.

O que Ventinho e Brisa mais gostavam de fazer era se esconder e aparecer de repente, puxando os cabelos das pessoas.
Certo dia, Ventinho resolveu assustar uma velhinha, que por ali passava , muito distraída.
Saindo detrás de uma pedra, gritou:
- Uh! Uh! Buá,á,áh!!!

- Vou assustar a velhinha e seu cabelo puxar!
E bem depressa foi puxando os cabelos da pobre velhinha.

De repente, Ventinho levou um susto muito grande! A cabeleira da velha saiu em suas mãos.
O fantasminha não sabia o que fazer.
Olhava surpreso para a velhinha, que de repente ficou carequinha...carequinha...
Ventinho não sabia que a velha usava uma peruca.



A velhinha começou a gritar:
- Socorro! Polícia! Estão roubando minha peruca! Alguém me ajuda?
E começou a bater com a sombrinha no fantasminha com toda força.
Coitada! Ela não sabia que Ventinho era um fantasminha, e as sombrinhas não valiam de nada! Pois a sombrinha não o atingia!
Ventinho ficou tão assustado que largou a peruca e saiu voando depressa de volta ao castelo.

A fantasminha brisa começou a rir e falou para ventinho:


- Bem feito, quem mandou assustar a pobre velhinha? Veja a confusão em que você se meteu. Que isto lhe sirva de lição.
Ventinho, muito sem graça, respondeu:
- É, irmãzinha, você tem razão. Com esta confusão que eu causei, não quero mais saber de assustar ninguém.
Vou viver bem sossegado a minha vidinha de fantasma aqui no castelo mal-assombrado.

domingo, 12 de julho de 2009

Sapatinhos Cor de Rosa






















Satime era uma cidadezinha muito, muito charmosa.
Era a cidade dos sapatos.
Havia tanto, mais tanto sapato que o prefeito resolveu fazer no seu jardim, uma loja de sapatos.



E ali foram chegando os pares, milhares deles.
Foram expostos sobre a grama, um ao lado do outro.
Havia entre eles um par de sapatos minúsculos, de tão pequeno parecia de boneca.
Mas muito fofo! Todo rosa, brilhava como as estrelas e dois lacinhos sobre ele para deixá-lo ainda mais gracioso.
Do lado dele um lindo par de botas, que de repente olhou para o sapatinho e disse:
- Xi... Você nunca será vendido! Ès muito pequeno, não caberá em nenhum pé neste vilarejo

ficando ali, triste, tão triste que chegou a chorar.
Realmente, quase todos os pares iam zombando dele.

Que tristeza! Ele não valia nada mesmo.




Numa linda manhã de setembro, ele ouviu uma voz rouca e grave:
- Fiquei sabendo em meu reino que, aqui é a cidade dos sapatos. Vim com minha filha procurar um lindo par para ela.





Uau!!! Era a filha de um rei!


O dono dos sapatos foi mostrando os pares, um a um. E o rei disse:


- Mas os pezinhos dela são muito pequenos !

e repente a princesinha deparou com um pequeno par de sapatinhos cor de rosa.


- É esse. Quero esse!


De nada adiantou os outros milhares de pares, todos se exibindo, querendo ser comprados pela linda princesinha.
Ela calçou os sapatinhos rosas.
- OOOHHH, ficaram lindos nos pequeninos pés.
E o rei completou:

- Quanto é?
-Ah excelência! Podes pagar o que quiser.

Ele estava ai, jogado, não caberia nos pés de ninguém.

E como é para essa linda menininha, faço até de graça...


- Não, não e não. Disse o rei - Pagarei por ele, dez vezes mais do que valeria. Porque em lugar algum encontrei sapatos tão pequenos que caberiam nos pés de minha filhinha.
assim foi. O pequeno par de sapatinhos cor de rosa foi morar num lindo castelo, nos pezinhos de uma linda princesinha.