quarta-feira, 14 de maio de 2008


A ONCINHA AMBICIOSA

Certo dia, a oncinha amanheceu muito triste, muito pensativa. Olhava indiferente os regatos de águas cristalinas, as árvores frondosas, os pássaros de plumagem multicor, que cantavam cheios de alegria. Não quis nem almoçar. Ela que geralmente tinha bom apetite. Seus pais ficaram bastante preocupados com a onçinha.

Sentados na frente de sua casa, mamãe e papai, cuidavam da criação do pomar e das flores.

Dona onça trazia um cafezinho para o Papai, que fumava o seu cachimbo.

_Que será que ela tem, perguntou a mãe onça ao seu companheiro. Não sei respondeu ele, intrigado. A dias que a pequena está aborrecida. Vive olhando a floresta e os rios, tão desanimada! Ontem mesmo, quando apanhei uma gazela, não quis provar nem um pedacinho! Com certeza está doente. É preciso ver o que há.

_Não, não é nada disso, tornou a mãe onça; eu acho que o que a pequena sente é saudades, saudades de alguma coisa que eu não sei o que seja....

_Mas tem tudo o quanto quer, tornou o companheiro. Sou um pai exemplar que lhe faz todas as vontades. É verdade, concordou ela. Esta tarde, vou perguntar-lhe qual o motivo que a aflige.

Infelizmente a oncinha, andava de um lado para outro, olhando tristemente aos atalhos da mata. Depois sentindo-se cansada, deitou-se à sombra de uma árvore, a beira de um regato. Aquele mesmo que costumava visitar quase todos os dias. E ali ficou muito pensativa. Sua mãe foi ao seu encontro. Vamos voltar para casa e ali conversar. Sentada em um banco, bem na frente de sua casinha, mamãe falou:

_Minha filha, disse ele carinhosamente abraçando- a Que se passa com você ? Sente alguma coisa? Qual a razão dessa tristeza? Você era tão alegre!

_Não é nada mamãe, tenho apenas uma vontade louca de conhecer outras terras.

_Por que, filhotinha? Você não se sente feliz aqui?

_Sinto-me, mas.. Eu gostaria tanto de ver as cidades, as pessoas que vivem ali, outros bichinhos enfim ver outras paisagens.

_Minha filha, agente deve estar contente onde Deus nos coloca. Fora dito aqui, pode ser perigoso. Acho melhor não sair de perto de nós que somos os seus pais.

_Oh! por favor, não me prenda, deixe-me ir, implorou ela.

_Bem, minha filha, já que não quer ficar, disse-lhe a mãe com lagrimas nos olhos, pode ir. No dia seguinte a oncinha levantou-se bem cedinho, despediu-se de seus pais e partiu. Caminhou quatro dias e quatro noites, e na manhã do quinto dia avistou uma grande cidade.

Começou a andar pelas ruas, olhando admirada por todos os lados. Que coisa estranha, pensava ela, vendo casas muito altas, bondes, automóveis, e carroças, que cruzavam a todo instante, cheios de gente. Mas a medida que a oncinha caminhava, todos se afastavam horrorizados. Percebendo isso, a pobrezinha falou, toda cheia de mesuras: Não fujam de mim, eu não lhes vou fazer mal algum. Mas quanto mais ela falava mais eles saiam correndo. Uns subiam nos automóveis, outros nos bondes, e outros entravam nas casas, fechando as portas.

_É uma onça, gritavam apavorados. Cuidado, ela morde! Ela é capaz de matar.

Ouvindo os homens, ela compreendeu que eram realmente de raça diferente da sua, pois falavam uma língua que ela desconhecia. Eles também não devem me entender, pensou com tristeza. É melhor abandonar esta terra, e voltar à minha floresta. Mamãe tem toda razão. Devo voltar. Lá sou respeitada. Contudo mal tinha tomado essa decisão, viu-se cercada de todos os lados, por homens truculentos que traziam grossas cordas nas mãos. Muito assustada, a pobrezinha nem sabia o que fazer. Deixem-me, suplicava ela, desesperada. Eu quero voltar para a minha floresta. Quero viver junto aos meus pais. Deixem-me por favor. Nunca mais virei aqui. Mas o seu pedido de nada valeu, porque ninguém a compreendia. Continuaram a ameaça-la com os laços, mas precavidos, porque sentiam medo também. Finalmente depois de muito trabalho, conseguiram aprisiona-la, levando-a para um circo, fechando-a numa jaula de ferro.
A pobrezinha ao ver-se fechada naquela gaiola, debatia-se como uma louca, procurando sair. Compreendendo que todo o seu esforço seria nulo, pois os ferros eram muito fortes. Pôs-se a chorar amargamente. Se eu tivesse seguido os conselhos de minha mãe, não estaria agora sofrendo. Nunca mais verei mês pais. Morrerei sozinha, longe deles, que eram tão bons para mim. Oh! meu Deus que farei? Realmente, depois daquele dia a vida da oncinha foi um verdadeiro martírio.
Todos os dias o macaco ia visitá-la, comendo uma banana. O jaburu estava na jaula ao lado e consolava-a, dizendo. Não chores, um dia você ficará livre disso, podes crer. Todos os dias o domador obrigava-a a andar só com as patas traseiras. A subir numa grande bola. E quando a coitada perdia o equilíbrio, chicoteava-a sem dó e nem piedade. Algumas vezes as suas carnes chegavam até a sangrar, tal a violência com que lhe batia. Quando a oncinha já conseguia ficar de pé em cima da bola, o empresário do circo marcou o dia da estréia, em que ela deveria aparecer em público.
Esse grande espetáculo foi anunciado pela cidade inteira, com bandas de música e enormes cartazes coloridos, com o retrato do belo animal. Todos esperavam ansiosos a chegada do grande dia. Na cidade não se falava em outra coisa, a não ser nas habilidades da oncinha prodigiosa. Será uma coisa jamais vista, comentavam uns. Imagine, uma onça andar em cima de uma bola! Será uma coisa divertida, apartavam outros. Mas...uma surpresa, lhes estava reservada. Na véspera da estréia, estando o domador muito cansado, ao encerrar a oncinha na jaula, não fechou bem a porta.
O bichinho muito esperto, percebendo isso, esperou pacientemente que a noite chegasse, para fugir. Felizmente quando as trevas vieram, foram acompanhadas de um tremendo temporal, que obrigou a todos se recolherem em suas casas.

A onça vendo-se sozinha, empurrou a porta e saiu sorrateiramente sem que ninguém a visse. Depois pôs-se a correr em disparada, e só parou quando se viu fora de perigo. Sentindo-se a salvo, continuou vagarosamente, parando aqui ou ali, para comer e beber.
Finalmente, depois de muito andar, chegou a casa de seus pais, Eles a receberam de braços abertos, e ficaram muito contentes por ela ter voltado. Nunca mais deixarei de ouvir os seus conselhos- disse a oncinha, abraçando a sua mãe. Nunca deveria Ter saído do meio dos meus. Aqui é que é o meu lugar. Aqui é que devo viver...