sábado, 17 de janeiro de 2009

O Espantalho Menina



Estávamos na salinha de minha bisavó.
Eu ficava com ela desde cedinho, pois meus pais iam trabalhar.
Gostava de conversar, aprendia e muito.
Falava sempre de sua terra longe daqui muito distante.
Até os catorze anos eu ainda tinha o sotaque dela e para alegria de meu bisavô recitava Camões como ninguém.
Riam comigo devido às confusões que eu fazia com a língua!
Mas eu não me importava, amava-os e muito.
Neste dia eu queria ouvir mais historias.
Chamava-a de madrinha, pois havia me batizado.
-Madrinha, conte uma historia para mim?
Enxugava as mãos que eram bem pequeninas como ela. Em seu avental todo colorido.
Não me lembro de tê-la visto sem avental.
Arrumei-me toda na ponta de sua cama, não tínhamos sofás a sala e o quarto era uma peça só, mas bem amplo.
-Você sabe menina, que não existe nada igual.
Pode parecer igual, mas não é.
Até irmãos gêmeos se você conviver com eles vai notar quem é quem.
Bem vamos a historia de hoje.
-E eu pensando o que será que ela quis dizer?
-Era uma vez uma grande plantação de arroz.
Linda, com toda irrigação moderna mesmo.
Porem o dono desta plantação andava preocupado com o bando de pássaros que estava sempre por lá cutucando suas plantas.
Chamou o administrador e pediu que desse um jeito de espantar estes pássaros.
-O administrador pensou bastante e resolveu fazer um Espantalho.
Sua esposa era muito caprichosa e sabia costurar muito bem.
Fez um Espantalho que ficou lindo mesmo.
Tinha a carinha de menina um vestido lindo a boquinha bem feita e pintadinha.
Os braços estavam levantados, numa das mãos tinha uma linda bolsinha que combinava com seu vestidinho.
Na outra mão carregava uma bonequinha bem pequena.
Os sapatinhos eram de cano alto uma gracinha.
Só de olhar para ela dava alegria de tão bonitinha que era.
Pois bem logo correu a noticia do Espantalho menina, lindo!
O dono da plantação não tinha muita fé que fosse afastar os pássaros.
-Não acredito não pensava.
Lá estava o Espantalho colocado bem no meio do arrozal.
Uma noite veio uma tempestade muito forte.
O vento assobiava de meter medo!
O Espantalho lá estava balançando para todo lado.
Logo a bolsinha da menina foi para longe só restou à bonequinha presa ainda na mão.
Amanheceu um céu azul e límpido depois de grande tempestade.
Ninguém se preocupou em ir ver o Espantalho.
Mas a filha do dono da plantação foi, pois gostou demais do serviço de sua mãe.
Para sua surpresa estava em pé e bem preso.
Os pássaros todos em volta traziam pendurado no bico a bolsinha do Espantalho menina.
Deixaram-no penduradinho em sua mão que balançava como se pedindo que dessem de volta sua bolsinha.
Pousaram nos ombros do Espantalho e pareciam conversar com ele!
Seria possível?
Aproximou-se e ficou prestando atenção na conversa...
-O pássaro maior disse;
-Viemos ajudá-la trouxemos sua bolsinha, não fique triste não a tempestade já se foi.
-Agradeço muito obrigada vocês são meus amigos, vou aproveitar para fazer um pedido.
-Não voltem à plantação para ciscar o arroz, pois estão estragando o que é plantado.
-Mas Espantalho menina, serve como alimentação.
-Sim eu sei, mas precisamos achar um novo meio de vocês comerem.
-Como? Perguntaram os pássaros.
-Ora meus amiguinhos, fiquem perto das semeaduras e colhedeiras que sempre caem no chão muitas sementes e arroz.
Não precisam vir beliscar as plantinhas. Assim terão também o que comer e fartamente.
-É uma boa idéia disse o pássaro maior.
-Obrigada Espantalho menina, vamos fazer assim, mas se precisar da gente é só chamar.
E saíram voando para encontrar as colhedeiras e semeadoras.
A menina que estava escutando, ficou encantada com a amizade rápida de todos.
-Mas madrinha o que tem a ver com as pessoas não são iguais?
-Isto é meio complicado para você entender hoje. Quem sabe quando tiveres mais idade.
A lição que fica é que a boa vontade mesmo de pessoas diferentes, é valida em todo mundo. A bondade muitas vezes esta onde você menos espera.
Por muitos anos o Espantalho menina ficou na plantação, sempre a senhora que a fez arrumava-a quando necessário.
Os pássaros ficaram por lá e ninguém entendeu como eles aprenderam depressa onde era um caminho mais fácil para ganhar alimento sem danificar as plantas.
Muitas vezes ouvir a orientação de outra pessoa pode ajudar muito. Quem tem bondade no coração, sempre arruma um jeito de ajudar o outro.
Uma boa ação aumenta o ouro no coração!
E você já fez uma boa ação hoje?

Marlene B. Cerviglieri