quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

FANTOLÂNDIA

O Sol vaidoso, exibia os seus raios e convidava o verão. Sentia-se no ar o aroma das Férias.

Depois de um ano de aulas, com resultado positivo, o Rui ganhava de prémio três meses de férias no Algarve, mais propriamente em Albufeira, numa vivenda perto do mar.

O Rui era um menino de nove anos, moreno, de olhar maroto muito alegre e cheio de imaginação.

Tinha muitos amigos o que compensava o facto de ser filho único. Era com eles que passava a maior parte do seu tempo, os seus companheiros de todas as aventuras.

A praia, era o seu ponto de encontro. Faziam corridas de natação, corridas de gaivota, construíam os maiores castelos de areia. Competiam sempre e até davam prémios aos vencedores. O primeiro prémio era um balão, o segundo uma pastilha, o terceiro uma concha do mar. No fim do dia, cada um pegava na sua bicicleta para um passeio ao pôr do sol.

O Rui, cansado, ia para casa. Quando chegava, dizia logo à mãe: - Mãe, tenho fome, o que é o comer? - e a mãe a sorrir respondia: - Vai tomar banho que o jantar está quase pronto!

O Rui entrava na banheira, deixava a água fresquinha molhar o seu corpo e recordava um dia feliz.

O cheirinho da comida era irresistível e corria para a mesa esfomeado. Piki, o seu cão de estimação, ladrava para o Rui, queria comida e todos riam imenso.

Os pais do Rui eram felizes e realizados nas suas vidas. O pai, um famoso médico, a mãe, a directora de uma revista feminina. Ambos não trocavam nada por aqueles três meses de paz, brincadeira, diversão.

Na vivenda linda de verão, tinham piscina, campo de ténis e uma mini pista de atletismo. Era lá que passavam os dias quando não iam à praia. Mas para o Rui, o seu melhor momento estava destinado para o final do dia, onde transformava o seu quarto no Mundo da Fantasia, um quarto enorme, cheio de brinquedos. Tinha uma pintura original nas paredes, a imagem de um bosque com o céu azul, um sol muito amarelo a brilhar e no meio uma porta que o Rui chamava a "porta mágica". Deixava a sua imaginação trabalhar vivendo as mais belas aventuras.

Um dia, pegou no puxador da porta mágica. Esta, como por magia iluminou-se e abriu-se. O Rui ficou com o coração aos saltos, no entanto, morto de curiosidade, entrou. Qual não foi o seu espanto, quando viu à sua frente um Mundo de Fantasia. Os campos eram amarelos, o céu lilás, as árvores de troncos azuis e folhas cor de rosa, os rios e mares em tons avermelhados. Não existiam carros, só os animais serviam de meio de transporte.

No ar pássaros gigantes, no solo belos cavalos, levavam as pessoas a passear.

As casas de várias cores, tinham o feitio de corações. O sol era verde e a terra cheirava a hortelã.

O Rui ficou boquiaberto, caminhava devagar, cauteloso. De repente, abriu-se a porta de uma casa. Dela saiu uma menina que se aproximava dizendo: - Olá menino, não te lembras de mim? - O Rui pensou, pensou e disse: - És a bonequinha de loiça da minha mãe!

Então, reparou que os habitantes daquele mundo eram os soldadinhos de chumbo, os seus cowboys, os seus heróis. Estavam lá todos os seus brinquedos. Fizeram uma roda à volta do Rui e disseram: - Queremos falar contigo!

A bonequinha de loiça, mais decidida disse: - Estás na Fantolândia, a Terra da Fantasia. Nós somos todos os teus brinquedos. Tudo o que vires e ouvires, é criado por ti, faz parte dos teus sonhos. Este Mundo é só teu, podes conhecê-lo!

O Rui, não podia acreditar no que via, mas estava feliz, eufórico e fez a seguinte pergunta: - Posso vir aqui quando quiser e fazer tudo o que me apetecer?

A bonequinha de loiça respondeu muito séria: - Podes, mas não podes ser mau, nem destruir nada. Se fizeres alguma coisa errada, apaga-se toda a fantasia, se fores sempre bom, podes ser o menino mais feliz deste mundo. Em troca, tens de nos fazer um favor, mudar as cores do sol e do arco-íris.

O Rui estava pasmado, perguntou de novo: - Como posso conseguir isso e porque é que tenho de o fazer?

A bonequinha de louça, sempre pronta respondeu: - É simples, basta olhares o sol e o arco-íris com muita vontade e tudo acontece. O mundo precisa de alegria, de mudanças e nós pensamos que mudando as cores, podemos devolver a alegria às pessoas!

A bonequinha de louça despediu-se a sorrir. O Rui viu-se de novo no seu quarto, com os seus brinquedos do costume e ficou a pensar " Se calhar foi tudo um sonho!?"

No dia seguinte, de manhã, levantou-se, tomou o pequeno-almoço e não disse uma palavra. A mãe perguntou-lhe: - Rui que se passa, não disseste uma palavra!

O Rui disse entredentes: - Estou bem mãe, só um pouco aborrecido. Posso andar de bicicleta? Não me apetece ir à praia!

- Está bem! disse a mãe.

E saiu na sua bicicleta andando sem destino. Parou perto dum campo, sentou-se no chão a olhar o sol, colocou os seus óculos de sol, fixou-o tanto dizendo: - Muda a tua cor! - com tanta força que o sol girou três vezes e ficou com as sete cores do arco-íris. Ficou lindo, só que ficou tão escuro, como se fosse noite.

O céu ficou coberto de nuvens e apareceu o arco-íris. Nesse momento o Rui pediu muito: "muda as tuas cores arco-íris!". Este mudou para uma só cor, um amarelo muito vivo.

O Rui assustado, pegou na bicicleta e pedalou só para pensar. Resolveu ir à praia. Os seus amigos e toda a gente na praia olhava o céu. Os amigos diziam: - O sol mudou para sete cores e o arco-íris ficou amarelo!

O Rui disfarçou, como se não soubesse de nada e foi para casa.

Os dias foram passando. Rui visitava diariamente a sua Fantolândia, divertia-se tanto que já não queria brincar no jardim, ou ir à praia.

A família e amigos admiraram-se, tudo começou a mudar, voltou a tristeza, queriam ter de novo as velhas cores do sol, do arco-íris porque os dias eram mais escuros. O Rui, também se sentia triste, nada o fazia feliz, só a sua Fantolândia onde fazia tudo o que gostava. Tinha uma feira popular, uma pista de carros de corrida, um barco, um carro descapotável, um comboio.

Casas de doces, de gelados. Transformava-se em mágico, em herói de banda desenhada.

Até que um dia, a sua bonequinha de loiça o chamou: - Rui, vem cá, preciso de te dizer uma coisa. É verdade que tu e o mundo perderam a alegria de viver e não conseguem aceitar as novas cores do sol e do arco-íris?

O Rui respondeu muito triste: - É verdade bonequinha, ninguém consegue olhar o sol e o arco-íris sem deitar uma lágrima, com tantas saudades das suas velhas cores.

A bonequinha olhou o Rui e disse: - Só há uma coisa a fazer para voltarem as cores do sol e do arco-íris. O teu Mundo da Fantolândia tem de acabar, só assim voltará a paz e a alegria ao mundo. Aceitas?

O Rui de olhos brilhantes respondeu: - Sim, aceito, aceito!

Então, com muita comoção fechou a porta da Fantolândia, dizendo adeus para sempre ao seu Mundo da Fantasia.

Correu para a rua, olhou muito, muito o sol e este ficou amarelo, olhou muito, muito para o arco-íris ficando este, logo com sete lindas e vivas cores. O dia surgiu de repente e ouviu-se um coro de vozes nas ruas dizendo: - Viva, Viva, voltaram as cores do sol e do arco-íris!

Todos se abraçavam, beijavam, faziam rodas.

O Rui tinha tantas lágrimas nos olhos que não sabia como as limpar. Chegou a casa, sentou-se no sofá, cansado mas mais feliz que nunca. Olhou para a bonequinha de loiça em cima da televisão e esta piscou-lhe o olho e sorriu.

Este, rio às gargalhadas e pensou " este é o nosso segredo, só nosso. Acabou a Fantolândia!"

De vez em quando lembrava-se dele, principalmente quando a mãe o mandava fazer coisas que ele não gostava: "Quem me dera estar agora na Fantolândia!" Mas logo se esquecia e fazia as vontades à mãe.

Continuou a brincar no seu quarto, a viver das suas fantasias, mais feliz do que nunca porque aprendeu que não se deve ser egoísta, nem feliz sozinho.

Valeu a pena tudo, só para ver a verdadeira beleza das cores do sol e do arco-íris.

Original de Elsa Zegre Silva