Era uma vez uma pequena vila na Inglaterra onde morava uma velha
senhora e sua filha, uma jovem muito bonita e trabalhadora, mas bastante comilona.
Numa tarde de primavera a mãe assou cinco tortas e as recheou.
Como ainda estivessem quentes, pediu à filha que as colocasse no peitoril da janela para esfriarem logo.
Mas quando a jovem sentiu o aroma delicioso das tortas, devorou-as todas.
A mãe ficou muito zangada, mandou que ela preparasse outra sobremesa para o
jantar e sentou-se à porta da casa para bordar.
Bordava e cantava uma canção meio maluca, mais ou menos assim:
Minha filha é um sumidouro,
Engole, até besouro.
Estava tão entretida no trabalho que não percebeu o cortejo real passando
bem à sua frente.
Curioso quanto à canção o rei lhe perguntou:
- Minha senhora, como é mesmo essa canção?
A mulher levou um susto enorme, mas mesmo assim inventou uma resposta rápida e cantarolou para o rei:
Minha filha é um tesouro,
Faz do pano um fio de ouro.
- Ah, quer dizer que sua filha costura muito bem? - perguntou o jovem rei.
A mãe estava tão espantada diante da comitiva real que respondeu sem pensar.
- Não, quero dizer que todo tecido em que ela põe as mãos vira ouro!
- Então chame sua filha já! - ordenou o rei.
- Quero me casar com ela
imediatamente!
A mãe obedeceu às suas ordens.
O rei casou-se com a jovem plebéia da vila, só que ao contrário do que
acontece na maioria das histórias, eles não viveram felizes para sempre,
porque um dia ele lhe disse:
- Vamos, apanhe uma dúzia de lençóis de algodão e transforme-os em ouro para mim.
A rainha, esperta, respondeu:
- É preciso solidão para fazer mágica.
Deixe que eu passe uns dias na torre
para trabalhar.
Mas, uma vez na torre, ela não conseguia dormir. Passava o tempo inteiro
pensando em como contar a verdade ao marido.
Até que uma noite ela ouviu uma voz estranha que a cumprimentava. Levantou os olhos e viu parado à sua frente um ser esquisitíssimo que lhe sorria. E ele disse:
- Não se preocupe, vou ajudá-la, mas em troca quero seu anel de diamantes.
A rainha concordou, e num passe de mágica o elfo transformou uma pilha de
lençóis em milhares de moedas de ouro.
O rei, feliz, pediu a ela que lhe fizesse mais ouro, pois assim poderia
mandar construir um castelo novo. A rainha, que nem se lembrava mais de
comer, voltou à torre desesperada. Mais uma vez, quando chegou a noite, o
estranho apareceu à sua frente:
- Vou ajudá-la novamente, mas antes quero seu colar de jaspe.
A rainha lhe entregou a jóia e ele fez surgir mais uma pilha de moedas de
ouro.
Tudo parecia bem, o rei esqueceu a história do ouro durante certo tempo.
A rainha voltou a comer como antes e um dia percebeu que esperava um bebê.
Foi então que seu marido lhe disse:
- Querida! Precisamos de ouro para o tesouro de nosso futuro príncipe. Por
que você não volta à torre?
Pela terceira vez, a rainha permaneceu isolada do resto da corte e, na
terceira noite que passava insone, o garboso elfo surgiu e disse:
- Vou ajudá-la pela última vez, mas, como hoje você não trouxe jóias para me
dar, quero que prometa o seu filho que vai nascer.
Depois de tanto tempo sem dormir, a rainha não sabia mais se estava acordada
ou não. Pensou que sonhava e que, se dissesse sim, o elfo desapareceria de
sua frente; por isso, respondeu que sim, quando o bebê nascesse ela o daria
ao elfo noturno.
Pela última vez ela entregou uma pilha de moedas de ouro ao rei, e depois
preparou a chegada de seu filho.
Quando o bebê nasceu, o rei ofereceu uma enorme festa, pois seu filho era um menino forte e saudável.
À noite, sozinha em seu quarto, a rainha lembrou-se do elfo. Olhou para o berço do bebê e começou a chorar. Chorou até adormecer.
Sonhou com uma linda casa, onde morava o elfo. Ele dançava e cantava uma melodia muito esquisita, mais ou menos assim:
Mini, mini, mó
Meu nome é Tom Tim Tot.
A rainha despertou assustada e viu que o elfo estava parado na cabeceira de sua cama.
- Entregue-me o bebê.
Cumpra a sua promessa! - ordenou à mãe.
- Isso nunca! Vou espantá-lo daqui. Sei o que fazer. Basta dizer o seu nome!
- Então tente!
Você tem apenas três chances de acertar - disse o elfo com um sorriso matreiro nos lábios.
- É Tião - gritou a mãe.
- Não é, não! - ele respondeu satisfeito.
- É João! - tentou novamente a mãe.
- Não é, não! - ele repetiu sorrindo.
Só então ela se lembrou do sonho e cantarolou:
Mini, mini, mó
Seu nome é Tom Tim Tot.
E, assim que ela pronunciou essas palavras, o elfo desapareceu para nunca
mais voltar. E então o rei, a rainha e o pequeno príncipe passaram o resto
de suas vidas felizes.