sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Pixy e a dona de casa

pixy estava bravo com a dona da casa onde morava porque ela não acreditava que ele existia.
- omo uma mulher que gosta tanto de poesia e lê sem parar nem desconfia de minha presença em sua casa? - perguntou indignado ao seu amigo, o gato.
- ão custava nada me dar um pouco mais de atenção! Nem mesmo na noite da natal recebo um pouco de comida. Todos os meus antepassados ganhavam pudim, doces e mel, tudo isso de mulheres que não sabiam ler nem escrever. E eu nunca recebo nada! Não me conformo! É uma injustiça . . . O que será que ela aprende naqueles livros? Nada que preste!
ou obrigado a comer creme de leite escondido e às vezes preciso até pedir ajuda a você, um simples gato!
ue humilhação!
pixy vivia reclamando, mas um dia perdeu a paciência de verdade. oi uma tarde em que a dona de casa preparava um bolo de mel, com cobertura de creme de nozes.
O gato não parava de lamber os bigodes e não saía de perto do forno.
e repente o pequeno elemental declarou:
- Ela me chama de fruto da fantasia do povo, de superstição. Para ela eu não existo. Descobri também outra coisa: ela acredita em tudo o que diz aquele professorzinho estúpido que agora aluga um quarto aqui em nossa casa. Prefiro mil vezes o seu marido. Principalmente quando ele grita "Mulher, largue os livros, preste atenção nas panelas". - O pixy cruzou os braços irritado.
- agora, só para ela aprender a me respeitar, vou acabar com o jantar inteiro!
Então soprou as chamas do fogão, queimando as panelas e estragando a comida.
dona de casa ficou furiosa. O elemental sorriu e continuou a fazer travessuras.
- ou subir até os quartos e furar todas as meias da família. Isso vai lhe dar bastante trabalho. Assim, quem sabe, ela pára de ficar pensando só em ler e presta mais atenção em mim.
gato, que observava tudo, espirrou, mas continuou calado. Estava gripado e rouco, apesar de sua pelagem de inverno.
O pixy subiu no armário e anunciou ao felino:

Encontrei o pote de creme de leite. Se você não

vier lambê-lo, termino com tudo sozinho.

- á que vou mesmo

levar a culpa e também uma surra, melhor

comer um pouco - respondeu conformado.

- bra a lata que já vem tapa - disse o pixy devorando todo o creme.

- Solte um miado se minha dona aparecer - implorou o gato. - Não estou me sentindo muito bem hoje.

- ocê está morto de vontade de comer doce - disse o pequeno travesso.

- Suba a escada e coma já esse creme. as não se esqueça de limpar os bigodes. Ficarei parado no corredor para ver se ela vem vindo.

o pixy correu até a porta entreaberta. Na sala de estar estavam sentados a dona da casa e seu inquilino, o professor. Conversavam sobre a importância da vida familiar.

De repente, ele disse com voz tímida:

- Senhor isserup, vou lhe mostrar algo que nunca tive coragem de mostrar a ninguém: meus poemas! São todos bastante longos. Eu os reuni num livro que chamo de "Livro de poemas de uma dona de casa dinamarquesa". Gosto tanto desse título . . .

á muita emoção no meu livro. Ninguém mais conhece meus versos, apenas eu mesma, minha gaveta e agora o senhor, senhor Kisserup. Mas descrevi meus sentimentos mais belos num poema intitulado "Meu pequeno Pixy". O senhor deve conhecer a lenda sobre elementais. Pixy é aquela criaturinha que fica pregando peças nas pessoas que moram nos campos. Eu acredito que existe um pixy morando nesta casa. É ele que inspira minha poesia.

escrevi o enorme poder e bondade deste pequeno ser em meu poema preferido.

professor começou a ler o poema em voz alta e a dona de casa a ouvi-lo. O pixy, que tinha escutado apenas o seu nome no título, ficou surpreso:

- Veja só! O poema foi feito para mim! Mas o que será que ela escreveu?

h . . . . Se ele tiver caçoado de mim, ponho as vacas para correr no pasto, dou um sumiço nos ovos do galinheiro e assusto os cães todas as noites.

Cuidado comigo, madame!

elemental apertou os lábios e levantou as orelhas compridas; mas, quando ouviu falar de sua bondade, poder e força, seus olhos começaram a brilhar. O pixy ficou nas pontas dos pés. Empinou o peito. entia-se imensamente satisfeito com o que ouvia.

- h! Como ela é culta e inteligente. Fui muito injusto! Ela escreveu um poema para mim que fará sucesso no mundo todo! Nunca mais vou permitir que o gato estrague os seus bolos, aquele danado! Vou pôr ordem na casa porque agora honro e respeito a rainha do meu lar!

- le é igualzinho a um ser humano - disse o gato. - É só ouvir um miadinho da dona, um miadinho de nada, para mudar de idéia. A madame é mesmo muito esperta.

epois enroscou o rabo em volta do corpo e adormeceu tranqüilo.

(Conto de Hans Christian Andersen)