domingo, 26 de maio de 2013

Os 4 Heróis







Certa manhã o velho burro de uma fazenda qualquer, escutou o fazendeiro dizer à sua mulher:
- Maricota, nosso burro já ficou velho e cansado. Não pode mais ir à feira nem sequer puxar o arado. As coisas não andam boas, não podemos sustentá-lo. Não ganho para comigo. Eu acho melhor matá-lo.



Mas o burro não tão burro, assim que a conversa ouviu abriu depressa a porteira deu um pinote e fugiu.
Depois de andar várias léguas em marcha desenfreada, encontrou um pobre cão, deitado à beira da estrada.



- Olá, velho amigo cão! Por que estás tão triste assim.
- Se soubesses camarada, terias pena de mim. Como estou ficando velho e não posso mais caçar, amanhã pela manhã, meu patrão vai me matar.



Tua sorte é igual a minha. Mas não fiques triste assim, levanta, foge comigo, o mundo é grande, sem fim! Eu sei que tocas sanfona. Eu toco bem violão, formaremos um dueto, renderá um dinheirão. Como estás meio fraquinho e mal aguentas contigo, sobe aí nas minhas costas e vamos embora, amigo.


Mal andaram poucas léguas, deitado a beira do mato, magro tremendo de frio, acharam um pobre gato.
Olá, velho amigo gato! Por que estás tão triste assim.
- Se soubesses camarada, terias pena de mim. Fiquei velho, os camundongos não posso mais apanhar. Por isso pela manhã, meu patrão vai me afogar.


- Tua sorte é igual a nossa. Mas não fiques triste assim. Levanta, foge conosco. O mundo é grande, sem fim! Eu sei que tocas tambor. Com a sanfona e o violão, formaremos um terceto e renderá um dinheirão! Vamos anda daí, deixa as mágoas pra depois! Sobes nas costas do cão, quem leva um, leva dois.
E assim, como três amigos, pela estrada lá se vão. O cão em cima do burro, o gato em cima do cão. Um pouco mais adiante, magrinho meio pelado, encontraram um pobre galo, numa cerca empoleirado.

- Olá, velho amigo galo! Por que estás tão triste assim.
- Se soubesses, camarada terias pena de mim! Como fiquei velho e rouco e não posso mais cantar, amanhã pela manhã, na panela irei parar.
- Tua sorte é igual a nossa! Mas não fiques triste assim. Levanta, foge conosco! O mundo é grande, sem fim! Sei que és um grande tenor e que cantas muito bem! Sobe nas costas do gato, levarei a ti também.



Violão, tambor, sanfona e um cantor de nomeada, vai ser um grande sucesso. A orquestra está formada.
E lá se pôs a caminho, o quarteto musical. Um tanto desafinado, mas, bastante original!
O cão em cima do burro, o gato em cima do cão, o galo em cima do gato, cantando sua canção. À noitinha, muito longe, numa clareira do mato, o galo cocoricou, fazendo um espalhafato.


"- Companheiros estou vendo, uma casa iluminada, deve haver alguém lá dentro, pode ser um camarada.

- Os meus olhos não me enganam, a fumaça eu posso ver, é sinal de que lá dentro, há um fogão para aquecer.


- O meu faro está dizendo, não se engana um perdigueiro, na dispensa iguarias, que darão para o ano inteiro.
- Minha grande inteligência, já viu tudo muito bem, a questão é que de graça, ninguém dá nada a ninguém."
- Eu tenho uma bela idéia, eis a grande ocasião de estrearmos nossa orquestra e ganharmos nosso pão. Uma grande serenata será um belo trabalho e recompensa teremos de alimento e agasalho.
_ Muito bem... Muito bem... Muito bem... Muito bem ...
E com bastante cuidado para não desafinar, chegaram junto à janela, começaram a cantar:
" Só porque não vou a feira meu patrão quis me matar e o meu do mesmo modo porque não posso caçar Já não pego camundongos meu senhor quer me afogar Se não ando tão ligeiro, na panela vou parar!
Huu ...au au ... miau ... cocoricó ...
Mal haviam começado sua linda serenata, quando dez homens fugiram embrenhando-se na mata. Pulando pela janelas aos gritos espavoridos, deixando nossos heróis surpresos, desiludidos.
- Fracassou a serenata, perdemos nosso trabalho!
- Agora nem alimento e nem agasalho!
- Essa não, se os moradores fugiram sem dizer nada, não é justo que deixemos esta casa abandonada!

- Entremos, mas com cuidado. Isto não me cheira bem!
- Ohhhhhh....!!!!




- Oh... ouro, brilhante, pérola, esmeralda, prata, platina, ágata, rubi!
Viva fortuna! Achamos o tesouro. Tanto dinheiro assim eu nunca vi!

Nada porém nos pertence, evitemos confusões, pelo que vejo esta casa é de um bando de ladrões.
- Muito bem, mas como é tarde, em princípio jantaremos e depois como é muito justo, um bom sono dormiremos. E amanhã muito cedinho, à primeira claridade, devolveremos as jóias ao governo da cidade.
Dito e feito. Após jantarem, comerem até fartar, cada qual buscou um canto tranquilo para deitar.



O burro deitou na sala.







O gato junto ao fogão.







O cachorro atrás da porta.





O galo no corrimão.



E lá no meio da mata serenada, a confusão. O chefe dos malfeitores, gritou chamando o ladrão.
- Atenção rapaziada! Mequetrefe, venha cá. Volte até a nossa casa, para saber o que há.
E meio ressabiado, o Mequetrefe voltou. Pulou o muro dos fundos, pela janela espiou.
A luz apagada, barulho no muro, se era a polícia, fugiu um por um. Se era o Saci, ou bicho papão, também já fugiu, aqui não está não. Porém ter cautela, demais nunca é, irei em silêncio e pé ante pé!

E entrou com todo cuidado. Ao passar junto ao fogão, viu os dois olhos do gato, brilhando na escuridão. E pensando serem brasas estivessem à arder, bem nos olhos do bichano, foi um fósforo acender.
- ...Miau....ui.....ai....có có ró có...!
Aos berros espavoridos, o ladrão voltou correndo para contar ao seu chefe, o que estava acontecendo.
- Meu caro chefe, que horror! Fujamos em disparada, nossa casa na floresta, deve estar mal assombarada. Eu fui acender um fósforo, uma brasa no fogão e uma fera de olhos verdes, arranhou a minha mão.

Quando eu passei junto à porta, um dragão de apavorar, mordeu tanto as minhas pernas, que eu quase não posso andar.
E um monstro de quatro patas e de orelhas levantadas, quando eu passei pela sala deu-lhe tremendas pauladas.
E uma bruxa feiticeira, uma voz que eu nunca vi, gritava do alto da escada:
- Traga o ladrão aqui....Traga o ladrão aqui... Traga o ladrão aqui...!
- Se és como está dizendo, a bruxaria está ali. Fujamos então depressa, para bem longe daqui.
De manhã os 4 heróis, de acordo com o combinado, vão devolver ao seu dono, o tesouro abandonado. Quando entrou pela cidade, aquela banda engraçada, o povo não se conteve e caiu na gargalhada.
Mas os 4 nem ligaram, cientes do seu valor, foram direto ao palácio falar ao governador.
- Ilustre governador. Somos músicos cantores e encontramos na floresta um bando malfeitores. Conseguimos espantá-los, fazendo uma serenata. Fugiram, largaram tudo e embrenharam-se na mata. Aqui estamos devolvendo, o tesouro abandonado.
- É o tesouro da rainha, que havia sido roubado!
Por esta grande façanha e tão grande honestidade, receberão as medalhas dos heróis dessa cidade. Além disso, muito ouro, muitas pedras coloridas, para que vivam felizes, o resto de suas vidas.
E a tarde pela cidade embandeirada e florida, os 4 Heróis desfilaram na posição preferida.
O cão em cima do burro. O gato em cima do cão. O galo em cima do gato, cantando sua canção.