domingo, 30 de março de 2008

O piu-piu chorão

O galinheiro era muito grande, e no meio dele havia uma enorme goiabeira. Não só dava muitas frutas, como também uma boa sombra nos dias muito quentes. A família do galinheiro era muito grande. Havia a família do pato preto, a da galinha ruiva, que cacarejava o tempo todo e a da galinha carijó.

Esta última tivera os seus pintinhos há pouco tempo e passeava com eles pelo galinheiro muito orgulhosa. Mas existe sempre um senão. Todos os pintinhos eram bem engraçadinhos, apenas um se destoava do bando. Chorava o tempo todo.

Dona Carijó estava ficando impaciente com ele. Ciscava e dava para ele comer, mas não adiantava o piu-piu continuava chorando.

- O quê fazer? - pensava ela.

Foi então que resolveu levar o assunto para a Galinha Dona Ruiva que parecia bem entendida. Chegou-se e expôs seu caso para a dona Ruiva.

- Ora, - disse dona Ruiva- você está dando muita atenção para ele, é isto que ele quer!

Conclusão não adiantou nada o conselho da amiga. Continuou preocupada com o piu-piu chorão. O tempo passou e quase nada mudou.

Um dia dona Carijó viu chegar ao galinheiro um visitante que não conhecia. Vinha junto com o dono. Acercou-se e ficou ouvindo a conversa.

- Pois bem, senhor Norberto, gostaria que desse uma boa olhada na minha criação.

- Procuro manter tudo bem limpo, a água é corrente, a alimentação bem balanceada, veja o senhor mesmo.

E assim o homem começou a olhar cada pedaço do galinheiro. Viu tudo, e chegou no piu-piu. Dona Carijó ficou toda arrepiada:

- O que será que ele vai fazer com o meu piu-piu chorão?

- Veja, Senhor Norberto, todos estão muito bem, porém este aqui ainda está com o que chamamos de pigarra.

- Não é nada difícil, - respondeu o Sr. Norberto - é só tirarmos a pele debaixo da língua dele, e esse som de choro desaparecerá.

- É mesmo ? - disse - sempre notei que ele pia demais como se estivesse chorando.

- Simples, eu preciso de meio limão e sal.

Assim foi. Agarrou o piu-piu chorão espremeu o limão e colocou um pouquinho de sal. Dona Carijó fechou os olhos e ficou apavorada, mas logo em seguida estava o seu pintinho andando normalmente e não mais chorava.

- Vejam só o que é saber das coisas! Pensou a Carijó.

- Era apenas uma pelezinha que foi tirada e pronto!

- Aprendi muito hoje.

- Deve-se sempre procurar ajuda, mas no lugar certo. Não se deve desistir, se um de nossos filhinhos for diferente, devemos procurar quem entenda verdadeiramente do assunto. Jamais ir rotulando ou deixando que o rotulem, sem ter certeza do que está acontecendo.

O galinheiro voltou ao seu dia normal, as goiabas caiam, a sombra era boa e a vida continuou ali muito bem.

Dona Carijó ficou feliz em ver seu filho curado.

Marlene B. Cerviglieri