
Axel Munthe foi médico e escritor. Viveu na Suécia. Seus livros faziam enorme sucesso. Mas a maioria dos leitores não entendia por que um médico como ele acreditava em fadas, duendes e gnomos.
Seu trabalho mais conhecido é o livro de San Michele, sobre sua própria experiência como médico. Nele, Axel conta o encontro que teve com um gnomo. Você pode conhecer a incrível conversa entre eles lendo a história que segue.
Estava hospedado na casa de tio Lars. Dei boa-noite a todos e subi para o meu quarto.


Diante de minha janela havia uma floresta silenciosa e escura.
Acendi uma vela.
Coloquei-a sobre a mesa, deitei-me na cama e adormeci.
De repente, ouvi alguém mexer na mesa.
Abri os olhos.


Quando me viu, deixou o relógio cair no chão, deslizou rapidamente pela perna da mesa e disparou em direção à porta.
- Não tenha medo de mim, espere, estou sozinho! - eu disse.
- Fique aqui para que eu possa lhe mostrar o que há dentro dessa caixinha
O gnomo parou e olhou para mim preocupado:
- Não estou entendendo nada!
Juro que senti cheiro de criança nesse quarto, mas você já é adulto, um homem barbado! - E olhando-me com mais atenção, continuou:

Você escondia todos eles na cama. Lembra quando cismou que era uma galinha e colocou um monte de ovos debaixo do seu colchão? Lembra quando todos os animais fugiram do seu quarto e sua irmã quase morreu de susto?



- Tudo isso é verdade?
- É verdade. E parece que você ainda mistura a realidade e os sonhos, como fazem todas as crianças.
- Mas já tenho 27 anos! - protestei.
- Você é uma criança grande. Só as crianças podem ver gnomos. Ande, mostre o que está escondendo dentro dessa caixa. É algum animal? - perguntou.

- Um relógio é o coração do Tempo.
- O que é Tempo? - ele quis saber.
- O Tempo se compõe de três coisas diferentes: o passado, o presente e o futuro.
- Ele fica sempre aí, preso nessa caixinha?
- Sim, o Tempo não descansa nunca.
Não dorme e não pára de repetir a mesma palavra no meu ouvido.
- E você entende a linguagem do Tempo? - o homenzinho parecia curioso.
- A palavra que ele me diz é "velhice". A cada hora do dia fico mais velho e cansado. E você? - perguntei.
- Você não tem medo de envelhecer e morrer?

- Morrer? - gritou. - Quem pôs essas bobagens na sua cabeça? Imagine só! Presente, passado e futuro. Que besteira! Você não vê que é tudo a mesma coisa?

Mesmo quando tiver seiscentos anos, como eu.
O sol já começava a nascer.
O gnomo levantou-se, despediu-se sorrindo e desapareceu.
( adaptação de Heloisa Prieto)