sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Lua Teimosa





Lua teimosa, não saía do céu e já ia dar meio-dia. É que o sol não tinha aparecido, atrasou-se sei-lá-eu o porquê.

Daí a Lua viu o céu assim, todo azulado e ocupou o espaço mais e mais até esponjar-se toda e ficar. Mas lugar de lua não é neste céu de meio-dia, era o que diziam as nuvens, algumas irritadas, outras nem tanto e outras nem nada diziam, só nuvavam.


Mas a Lua não se importava, não ligava, não dava ouvido a nada, até porque Lua não tem ouvido mas escuta e muito bem.

Ficava no céu e pronto.

Até que achava muito bom ver o dia nascer de vez em quando.
Era época de lua minguante e por isso, andava a Lua tão fina de quebrar; meia-lua, meio-dia, meio clara meio escura, vivendo o espaço do Sol.

Bem, mas como não estava acostumada a ficar assim, acordada de dia, danou a Lua a bocejar... abrir aquela boquinha disfarçada, depois aquele bocão de Lua quando está com sono... por descuido, engoliu até algumas nuvens e brincou de algodão-doce no céu. Ali, pestanejou e dormiu.
Dormiu e sonhou.

O sonho da Lua minguada encheu-se de Sol.
Sonhou pipa, pássaros, poesia. Sonhou cisnes, saveiros e sereias. Sonhou várzeas, vidas e ventos. Sonhou lírios e lábios.

Sonhou liberdade.
E o sonho, de tão sonhado, brincou enrolado em estrelas, dependurou-se em arco-íris, balançou-se qual criança feliz.

Iluminou campos e rios. Então, imensamente nova, a Lua acordou.

Com o entreaberto do olho, pôs-se a rir (aquele risinho de dentro que ninguém sabe que é riso). Achou engraçado todo mundo esperar o Sol. E ficou a Lua, teimosamente no céu de meio-dia que já quase a pertencia. Bem verdade que uma tarde era vinda posto que a Lua havia adormecido por uma hora e alguns outros minutos que não sei bem o quanto. E uma noite logo surgiu e de novo o dia...
As primaveras foram vindo e indo.


Os invernos e os verões.
Outonos varavam.
Era um crescer e um minguar, um encher e um novar sem fim.

A cabeça dos "lá-de-baixo" não entendia nada.

- Afinal, por onde andaria o Sol?
Umas bocas reclamavam. Alguns olhos só olhavam. Outras pernas só passavam e teve quem nem sentisse nada diferente. E foram parando de reclamar. Foram parando de olhar até que foram se acostumando e se acomodando sem o Sol.

As plantas e os bichos também muito sentiram, depois nem tanto até que aprenderam a viver com os raios prateados da Lua que tomava cada vez mais conta do céu.


O tempo foi passando.
(.....)
Um dia desses, em que a Lua já havia feito ninho no céu pois tinha pertences de lua por toda parte: orvalho pros cabelos e batom prateado, vestidos rodados e coloridos, sapatos de saltos os mais variados além de outros apetrechos... pois é... nesse dia, o Sol apareceu.

Estava meio avermelhado de vergonha, meio atrasado,

quer dizer, muito atrasado... - quantas luas haviam passado? Muitas luas. Poucos sóis.
Ele foi logo dizendo que...mas... sabe? Bem... não ia demorar, porém, sabe como é que é, né? Tão somente, todavia, contudo, estava cansado; e agradecia à Lua por ter lhe dado férias mas... agora poderia deixá-lo a sós com o céu...
- A sós, Sol?

E a Lua dizia que os "lá-de-baixo" não sabiam mais quem ele era, o que fazia... tinha sido muito tempo, muita hora, ora ora!


Dai que o Sol, educadamente, foi conversando com a Lua , contando-lhe bonitas histórias de raios e luzes que existiam do outro lado do mundo. E, como ninguém resiste a uma boa história, a Lua foi-se deixando seduzir e quando deu por si, já era o Sol se abrindo no céu com toda sua cor aboborada, alaranjada, avermelhada.

Com todos os seus raios, seu poder e sua magia.
Foi acordando as pessoas daquele sonho longo de Lua, foi abrindo as gavetas, as roupas e as caras dos outros, foi trazendo sorriso e encanto; foi deixando para trás um outro tempo.
Expandiu-se.

Abraçou o céu.
Raiou.
(.....)


Era assim que a minha avó explicava para mim sobre aqueles dias nublados em que havia lua no céu.

Autora: Silvana Lima