O PATO OSVALDO
A. Lobo
Era Primavera. Junto ao lago, as patas tomavam contam dos patinhos que tinham acabado de nascer. Era uma alegria ver as mamãs patas e os papás patos à volta dos patinhos recém nascidos. Umas patas tinham dois, três e mais patinhos, mas a pata Lena só tinha um, a quem chamava de Osvaldo.
Osvaldo era um lindo pato com belas cores, parecido com o pai, o pato Vando. Mas Osvaldo tinha um problema: Não conseguia nadar. Estava a ser um problema para os pais.
Quando todos os patinhos acompanhavam os pais a nadar no lindo lago de águas azuis, num alegre quá- quá, Osvaldo ficava na margem.
- Vá Osvaldo, entra na água para irmos com os outros patinhos até aquela ilha no meio do lago, onde há umas ervas muito fresquinhas – dizia a pata Lena.
- Não consigo mamã, se eu entrar na água, afogo-me – respondia Osvaldo.
- Já alguma vez se viu um pato afogar-se – dizia o pato Vando aborrecido – Vamos Osvaldo atire-se à água se não atiro-te eu.
E o pato Osvaldo cheio de medo, atirou-se à água. E mal entrou começou a afundar-se ; aflito agitou as asas, batia com as patinhas e começou a beber muita água, não fosse o pato Vando estar atento e Osvaldo tinha-se afogado.
- Não há dúvida que temos um grande problema – dizia o pato Vando para a pata Lena – o miúdo não consegue mesmo nadar. Como vamos resolver este problema?
- Talvez fosse melhor irmos falar com o mocho Teodoro. Como ele é um sabichão talvez nos dê a solução – disse a pata Lena.
E os dois levaram o Osvaldo ao mocho sabichão para ver se havia cura para aquele estranho problema.
ilustração de Tiago Morais (6 anos)
- Não sei o que vos diga – disse o mocho Teodoro – este é um caso raríssimo. Só uma vez na minha já longa vida tive um caso destes.
- E o que é? – perguntou a pata Lena.
- Osvaldo nasceu com as penas muito pesadas, e é por isso que não consegue nadar.
- Penas pesadas? Que disparate, são iguaizinhas às minhas. - disse o pato Vando.
- Por isso mesmo, você pato Vando já é grande, e ele ainda é pequeno.
Apesar de muito intrigados com o que disse o mocho Teodoro, o pato Vando e a pata Lena, levaram Osvaldo ao barbeiro, o pica-pau Américo, que com o seu bico amarelo cortou, muito rentinho as penas do Osvaldo. Mas não foi solução, talvez por estarem pequeninas demais, Osvaldo, não conseguia manter-se à superfície da água.
- O que nos havia de acontecer, um pato que não nada, não é pato – dizia o pato Vando muito triste.
- Deixa lá, se não nada, anda. Era muito pior se não andasse, não achas? – desculpava-o a mãe.
O tempo foi passando, os patinhos foram crescendo e os papás e as mamãs ensinavam os filhinhos agora a voar. Era muito engraçado ver os patinhos, agora jovem patos, a fazerem os seus primeiros voos. Muito desajeitados, com muitos trambolhões, com bicos esfolados, e de vez em quando uma pata aleijada. Mas era um gosto ver toda aquela alegria, no meio de muitos quás – quás.
Mas Osvaldo estava com um novo problema, não conseguia voar.
ilustração de Tiago Morais (6 anos)
- Isto já é de mais – dizia o pato Vando – Agora o Osvaldo também não consegue voar. A culpa é tua – virado para a pata Lena – Dá-lhes mimo de mais.
- Eu? Já sabia que a culpa tinha que ser minha – disse a pata Lena já a chorar.
Osvaldo andava muito triste e era motivo de riso e de piada dos outros patos que cantarolavam:
- O Osvaldo não sabe voar! O Osvaldo não sabe voar!
Certo dia, todos os patos daquele lago, foram convidados pelos patos de um outro lago a irem lá fazer um piquenique. Todos estavam entusiasmados com aquele piquenique. Estava combinado para o próximo domingo irem todos a voar até ao lago. Faziam o piquenique e ao fim da tarde depois de tomarem banho na cascata Doce, regressavam ao lago também em voo.
O pato Vando e a pata Lena estavam muito tristes porque queriam ir mas não queriam deixar Osvaldo sozinho. Como ele não podia voar, não havia solução.
Osvaldo quando viu que os pais estavam com o bico em baixo de tão tristes, disse-lhes:
- Eu tenho a solução. Podemos ir todos. Vocês vão a voar e eu saio mais cedo e vou à pata ter convosco.
E assim foi, no domingo muito cedo, Osvaldo saiu, à pata, pelo caminho que dava ao lago.
A pata Lena e o pato Vando não gozaram nada no piquenique. Nem comeram, nem tomaram banho, o Osvaldo nunca mais aparecia.
Já era noite quando Osvaldo chegou ao lago, já os patos tinham regressado a suas casas. Só estavam o pato Vando e a pata Lena à sua espera. Os patos daquele lago até tiveram que lhes emprestar uma pilha para os alumiar no caminho de volta.
Um dia estava o pato Vando a arranjar o telhado da casa, quando escorregou e partiu uma asa. Foi uma aflição, Osvaldo e a pata Lena fartaram-se de grasnar, e pediram ajuda ao corvo Geraldo que era muito entendido em curativos. Este atou uma ligadura em volta da asa do pato Vando e disse à pata Lena que havia umas plantas na outra margem do lago que fariam muito bem. Como Osvaldo não podia ir buscar porque não sabia nadar, a pata Lena disse ao Osvaldo para ficar com o pai enquanto ela ir apanhar as plantas.
Quando a pata Lena chegou à outra margem, e saiu da água, teve uma surpresa, a raposa Rufina estava escondida atrás de uma moita à espera dela, e apanhou-a. Prendeu-a a uma árvore e a pobre pata Lena grasnou tão alto que os gritos de socorro, chegaram aos ouvidos do pato Vando e de Osvaldo.
Aflitos com o que se estava a passar e com o pato Vando ferido, Osvaldo atirou-se desesperado à água e bateu com tanta força com as patas que conseguiu nadar, e depois como também bateu furiosamente com as asas, Osvaldo levantou voo. Subiu, subiu e do alto viu a mãe, a pata Lena, presa a uma árvore e a raposa Rufina prestes a assá-la. Osvaldo nem pensou mais, fez um voo picado em direcção a Rufina e derrubou-a, e com o bico deu tantas bicadas na raposa que esta teve de fugir. Osvaldo libertou a pata Lena, os dois a nadar muito felizes, atravessaram o lago para casa onde os esperava o pato Vando.
Osvaldo foi considerado um herói. Houve uma grande festa e o mocho Teodoro disse com voz sábia: “ Quando menos se espera, aquilo que pensávamos ser incapazes, somos capazes de o fazer, é só querermos. Com força de vontade tudo se consegue. Querer é poder”.