terça-feira, 31 de março de 2009

OS ESPIRROS DA PRINCESA ROBERTA

A. Lobo

Era uma vez num reino muito distante, onde o sol tinha a cor do ouro e a lua a cor da prata, vivia o rei Clarimundo que tinha uma filha chamada Roberta.

A princesa tinha um grave problema de saúde: espirrava sempre que um dragão andasse por perto.

O Rei andava muito preocupado porque diziam que na floresta andava um dragão que podia apanhá-la.

A princesa andava sempre acompanhada da ama Isolinda e gostava muito de ir para o campo apanhar flores e fazer piqueniques.

Isolinda levava sempre na cesta iogurtes de peixe que a princesa adorava comer.

Um dia estavam sentadas no campo a saborear os iogurtes de peixe quando a princesa reparou numas flores muito bonitas e foi apanhar uma com a ajuda de Isolinda.

Como estavam distraídas a apanhar flores, não deram conta que por detrás delas apareceu um dragão e roubou o iogurte fugindo para a floresta. A princesa ficou surpreendida com o desaparecimento, deu um espirro e perguntou à ama:

- Isolinda não foi aqui que puseste o iogurte?

- Pois! Pois! – disse Isolinda, que passava o dia a dizer pois, pois.


ilustração de Tiago Moreira (5 anos)

Tanto a princesa como Isolinda não se aperceberam que o dragão tinha roubado o iogurte. Entretanto Isolinda foi tirar outro iogurte da cesta e foi dar à princesa.

- Adoro iogurte de peixe. Não posso viver sem eles.- disse a princesa Roberta.

O rei Clarimundo foi encontrar a princesa fora do castelo e ela não parava de espirrar. Os dois ficaram muito admirados a olhar um para o outro e o rei a gaguejar e a olhar para todos os lados e disse, muito aflito:

- Estááás a veeer. Deveee andaaar por aí um dragãããoo.

- Deve ser alergia ao pó da tua velha capa – respondeu a princesa.

- É nova. Foi feita a semana passada pelo alfaiate real – disse o rei.

Da floresta ouve-se um rugido terrível e o rei, a princesa e a ama, fogem para o castelo a gritar cheios de medo. O dragão aparece a deitar fogo pela boca e a ameaçar:

- Se não me derem todos os iogurtes de peixe que tiverem, eu vou arrasar este castelo e vou comer toda a gente que estiver lá dentro.

Nas ameias do castelo, o rei e a princesa, tremem apavorados.

- O que havemos de fazer? Os iogurtes de peixe só são para ti. Neste castelo ninguém pode comer iogurtes de peixe, só tu minha filha - disse o rei Clarimundo.

O dragão furioso vai para a floresta e o rei e a princesa começam a andar de um lado para o outro, muito pensativos.

- Achei. Já encontrei a solução – disse o rei todo contente.

- Qual é? – perguntou a princesa.

- Vamos encomendar ao mágico Merlin, uma poção mágica, para que nos livres do dragão para sempre – disse o rei.

O mágico Merlin é chamado à presença do rei, para fazer uma poção mágica.

- Que deseja Vossa Majestade – disse o mágico fazendo uma grande vénia.

- Ordeno-te que faças uma poção mágica para que o dragão deixe para sempre o meu reino.

O mágico com ar pensativo, começa a andar de um lado para o outro, a pensar qual a poção mágica que devia fazer para se livrar do dragão. Depois de muito pensar, começa a escolher os ingredientes e a deitá-los num pote mágico:

- Molho de tomate, mostarda, espinhas de sardinha, asas de morcego, olhos de formiga e uma pitada de pernas de sapo...e...já está.

Depois foram todos para o castelo e deixaram a poção mágica para o dragão comer.


ilustração de Bernardo Silva (6 anos)

O dragão apareceu vindo da floresta, repara no pote e como cheirava tão bem não resistiu e comeu a poção mágica. O dragão deu pulos, agitou-se, gritou, rodopiou e disse:

- Isto é mesmo bom. Até me sinto mais forte. Agora é que o povo do castelo vai ver. Dá um forte rugido e afastou-se para a floresta, cheio de força.

O rei chamou o mágico e pergunta o que é que e passou, e o mágico respondeu:

- Não sei o que se passou. Deitei os ingredientes todos, para ele ficar fraquinho e ir embora deste reino, e ele ficou mais forte.

- E não te enganaste em nada? – perguntou a princesa.

- Acho que não! Deitei molho de tomate para ele ficar vermelho de raiva, as espinhas de sardinha, para se engasgar, as asas de morcego, para ir daqui para fora, os olhos de formiga, para ficar pequenino, e as raspas de sola de sapato, para ficar...fooorte. – disse o mágico que deitou as mãos à cabeça quando viu a asneira que tinha feito.

- Meu estúpido. Em vez de raspas de pernas de sapo, deitaste raspas de sola de sapato – disse o rei, e foi atrás do mágico para lhe bater.

O tempo foi passando e o problema com os espirros da princesa Roberta e as ameaças do dragão ao povo do castelo do rei Clarimundo continuavam por resolver.

O rei então teve a ideia de chamar o destemido cavaleiro Rodolfo e disse-lhe:

- Tenho uma missão para ti. Tens que expulsar do meu reino o dragão que está a meter medo ao meu povo e faz espirrar a minha filha, a princesa Roberta.

Da floresta ouviu-se de novo o rugido do dragão. O rei, a princesa e Isolinda fogem cheios de medo para o castelo. O cavaleiro Rodolfo apesar de estar a tremer de medo, foi ao encontro do dragão.

- Ó dragão, se és valente, aparece e defronta o destemido cavaleiro Rodolfo.

Da floresta apareceu o dragão a deitar fogo e deu-se uma luta muito feroz, entre o cavaleiro Rodolfo e o dragão. Logo no primeiro embate, o cavalo fugiu a sete patas e ninguém mais o viu. O cavaleiro Rodolfo apesar de ser apoiado pelo povo do castelo, teve que fugir para salvar a vida.

- Minha filha já não sei mais o que devo fazer - disse o rei desolado.

- Vou-me deitar ao poço. Não posso viver sempre a espirrar e sem os meus iogurtes de peixe - disse a princesa a chorar.

Aparece então o alfaiate Zézé que disse:

- Eu tenho a solução.

O rei até oferecia um pote de ouro se o alfaiate Zézé conseguisse afugentar para sempre o dragão. Mas Zézé não queria nenhum pote cheio de ouro. Se conseguisse afugentar para sempre o dragão, queria como recompensa, casar com a princesa Roberta. O rei aceitou a proposta e o alfaiate Zézé começou os preparativos.

- Não sei se sabem, mas os dragões cada vez que espirram, ficam cada vez mais pequeninos. A minha ideia é esta: Princesa Roberta preciso de um dos seus iogurtes, e quero que espirre três vezes para dentro do iogurte.

A princesa Roberta espirrou três vezes para dentro do iogurte, taparam tudo muito bem e foram para o castelo para que o dragão voltasse.

Da floresta sai o dragão a rugir e a deitar fogo, quando viu o iogurte, apesar de desconfiado, mas como estava com muita fome, não resiste e começou a comer o iogurte.

Parou de comer, deu um espirro e nessa altura o dragão encolheu e ficou mais pequeno. Outro espirro e ficou mais pequeno. Outro espirro, e de novo fica mais pequenino. Até que ficou do tamanho de um passarinho. Do castelo sai o alfaiate Zézé e meteu o dragão numa gaiola.

Ouvem-se gritos de alegria do povo. A princesa e o alfaiate com o rei à frente fizeram um cortejo para festejar. Das ameias do castelo o povo lança flores e dão vivas aos noivos que foram felizes para sempre.