segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A linha e a agulha













Era uma vez um fio de nylon que vivia infeliz por ser incolor.
Todos os dias desejava ser como os fios de lã
que ficavam guardados na caixa de bordado.
Lá havia miçangas de várias cores, alfinetes com
cabeça de acrílico colorido, agulhas douradas e
muitas outras maravilhas multicores.

Mas ele , de longe, ficava a sonhar com
aquele ambiente multicor.
Muito tempo se passou e o fio de nylon percebeu
que sua história de vida era longa,
enrolado naquele carretel contido, por muito tempo,
na caixa de pescaria, enquanto as miçangas e
fios de lã já não viviam em sua antiga caixa de bordado.

Todos viviam agora nas toalhas de rosto e banho,
nos panos de pratos e nas roupas utilizadas pelas
pessoas que moravam naquela casa:uma bordadeira,
um professor e seus filhos.

Um dia, percebeu que a casa acordara agitada e feliz.










Estavam todos de férias e iriam passar uma temporada na praia.
O professor logo pegou sua caixa de pescaria,
pois ensinaria os filhos a arte de pescar.
O carretel sentiu-se retesado e preparado
para enfrentar uma nova etapa de sua vida e
notou, ao mergulhar, como era importante que
ninguém o enxergasse naquela nova missão submarina.
Conheceu uma maravilha jamais vista por ele:
era um mundo multicor, onde fez novos amigos e
ficou fascinado com o fundo do mar.
Lá, havia formas e cores muito originais e extasiantes.




Passou a ter sonhos e se sentir muito importante.
Afinal, ouvia todos os dias o professor alertar os filhos:
- Não esqueçam de pegar o carretel de nylon,
pois sem ele não haverá pescaria.








Ao retornar a casa, percebeu que as toalhas e
roupas bordadas estavam muito gastas e desbotadas.
As lãs partiram alguns fios, as cores desmaiaram
com as lavagens e muitas miçangas estavam
deformadas com o calor do ferro.
Assim, foram logo colocadas na gaveta de peças gastas.
Mas o carretel de nylon, que residia na caixa de pescaria,
bem próxima à gaveta, descobriu um novo ofício e
passou a narrar sobre a beleza do fundo do mar,
os novos amigos adquiridos e a importância de ter
conhecido anteriormente as lãs e as miçangas,
pois foram elas
que lhe ensinaram as cores que há na natureza.
Falou-lhes de todas as cores encontradas no fundo
do mar e Relatou-lhes que no fim do dia, as cores
da natureza desbotam para que todos possam
descansar em paz.
O desbotar das cores é um presente abençoado por Deus.
Contou-lhes também que o vento, o cheiro da maré,
o canto da gaivota e o gosto do sal são
inteligentemente transparentes, para que
os homens possam ver
com outros olhos que não necessitam da visão.
No fiar das histórias, todas as tardes,
descansavam
em paz as lãs e as miçangas com suas cores
desbotadas e
o carretel de nylon que aguardava
pacientemente por
um novo momento de pescaria.

E assim, o tempo corria lentamente,
entre cores suaves e a transparência da beleza de viver...

Jacqueline D. de Carvalho